DREX: BANCO CENTRAL FAZ TESTES PARA LANÇAR O REAL DIGITAL
Na esteira do sucesso do Pix, o Banco Central do Brasil se debruça sobre testes de privacidade do Drex, cujos resultados devem ser divulgados no início do segundo semestre deste ano. Por: André Felipe de Lima
O brasileiro convive muito bem com o Pix. As projeções do setor de pagamentos são as mais alvissareiras possíveis – e não é para menos. No ano passado, o novo modelo de pagamento instantâneo disputou a preferência do consumidor com o tradicional cartão de crédito.
Como aponta estudo realizado pela Payments and Commerce Market Intelligence (PCMI), empresa de consultoria e de pesquisas do segmento financeiro, o Pix representou 29% do total de pagamentos do comércio eletrônico brasileiro. O cartão de crédito, porém, permanece à frente com larga margem (49%), mas por pouco tempo. Muito provavelmente, prediz o mesmo estudo, o Pix encurtará essa distância nos próximos dois anos, passando a responder por 40% das operações, e o cartão de crédito, por 42%.
Essa transformação comportamental no mercado promovida pelo Pix ganha um aliado: o Drex, projeto de moeda digital do Banco Central do Brasil (BCB), criado e operado pelo banco. Quem explica a diferença de um modelo para o outro é o coordenador do projeto do Drex no BCB, Fabio Araujo.
“A principal diferença entre Pix e Drex é o objetivo de uso de cada um dos sistemas. O Pix foca no provimento de serviços de pagamentos instantâneos, e o Drex, em serviços financeiros como crédito, investimento e seguro”, detalha Araujo.
Ele acrescenta que o Drex é a representação da moeda brasileira, o Real, em ambiente digital. “Mas, além de ser uma moeda digital, o Drex é uma plataforma para viabilizar a tokenização da economia brasileira, em mais uma ação promovida pelo Banco Central do Brasil para a construção do sistema financeiro do futuro, que democratize o acesso da população brasileira aos serviços financeiros.”
SALTO NO SEGURO
Mas como o Pix e o Drex contribuirão para novos produtos e o salto da digitalização do mercado segurador?
O titular da Superintendência de Seguros Privados (Susep), Alessandro Octaviani, afirma que o setor de seguros deve fazer um bom uso dessas ferramentas e que a Susep atuará, dentro de suas competências regulatórias, como incentivador e indutor de novos produtos e serviços. Ele lembra, inclusive, que o SRO e o Open Insurance estão inseridos em um contexto digitalizado, que demandará uma regulação à altura, na qual se inclui o uso do Drex e do Pix.
Para o coordenador do projeto do Drex no Banco Central, é “natural” a interação entre o Drex e os elementos do Open Finance e do Open Insurance. “A troca de informações que vêm sendo desenvolvida no Open Finance é nativa ao ambiente do Drex e deve se pautar pelos mesmos princípios. Assim, a sinergia e a interoperabilidade entre esses dois projetos são muito grandes, ampliando o potencial de ambas: o Open Finance operando no ambiente de finanças tradicionais, e o Drex, no ambiente de finanças digitais”, observa.
A nova realidade ultraconectada expõe, no entanto, o risco de que grupos criminosos criem sistemas análogos ou falsificações do mesmo ativo (tokenizado). Diante disso, mais questionamentos. Como, então, medir os níveis de segurança para as operações em seguros a partir da expansão do Pix e do Drex? Há garantia de que esses modelos vão, de fato, gerar ainda mais transparência para as operações comerciais no setor ou há gargalos e riscos nesse sentido?
“O mundo virtual possui inúmeros benefícios, mas precisamos ter no radar que vamos atrair para esse ambiente quadrilhas especializadas e também a chance de a instabilidade do mundo digital migrar para nossos mercados”, prevê Octaviani.
Uma das missões prementes do órgão regulador de seguros é ajudar e orientar as seguradoras a se prepararem tecnologicamente para essa nova realidade de pagamentos digitais. “Essa questão é objeto de nosso plano de regulação, que inclui a criação do grupo de trabalho sobre cibersegurança e mercados fiscalizados. O setor de seguros, mesmo com muitos avanços e maturidade, pode e deve evoluir”, pontua o superintendente da Susep.
Segundo Fabio Araujo, o sistema financeiro brasileiro adota práticas de segurança cibernética que garantem sua integridade. Dessa forma, os principais desafios à segurança de novos sistemas que lidam com informações pessoais estão na ponta de acesso, ou seja, no usuário.
“A cada inovação, agentes com intenções maliciosas criam ou reciclam estratégias de golpe de modo a obter diretamente dos usuários suas credenciais. Para mitigar esses problemas, ações de educação financeiras, como as desenvolvidas pelo BCB e pelo mercado, são de grande importância. Além disso, a adoção de tecnologias de identificação biométrica, que têm avançado muito nos últimos anos, também ajuda a prevenir acessos indevidos”, enfatiza.
INCLUSÃO FINANCEIRA
O Pix mostrou-se uma excelente ferramenta de inclusão financeira. No primeiro ano de operação, quase 45 milhões de pessoas fizeram suas primeiras transferências digitais. E, nos dois primeiros anos, chegou a 75 milhões de pessoas. Para Fábio Araujo, essa inclusão contribuiu para criar na população o hábito de usar canais de serviços digitais, reforçando o relacionamento com bancos e instituições de pagamentos.
“Esse novo relacionamento gera informações que podem ser usadas imediatamente pelas instituições financeiras e também pelo Open Insurance, por meio dos mecanismos que estão sendo desenvolvidos para possibilitar serviços financeiros mais acessíveis e adequados às necessidades dos cidadãos. O Drex se encaixa nessa estratégia como um mecanismo de potencialização e de aumento de eficiência na prestação de serviços financeiros, promovendo sua democratização”, conclui Fabio Araujo.
O que falta, entretanto, para que o Drex seja lançado? Como estão os testes com a nova ferramenta financeira e a programabilidade da plataforma na rede de blockchain? Com a participação de 16 consórcios que reúnem cerca de 70 empresas, o Piloto Drex tem avançado de forma positiva, informa Araujo, com a infraestrutura básica em operação para o teste de seus elementos.
“É na solução da questão da privacidade dos usuários que os participantes do projeto-piloto do Drex estão trabalhando no estágio atual. Devemos encerrar a fase inicial de testes de privacidade até maio, para anunciar os resultados no início do segundo semestre. Esse é um ponto fundamental a ser resolvido, pois, somente com uma solução de privacidade adequada aos requisitos de sigilo bancário e da LGPD, poderemos abrir a plataforma do Direx para uma fase de testes que inclua a população”, diz Araujo.
O mercado internacional está atento à implementação da moeda digital pelo Banco Central. Outras instituições semelhantes mundo afora estão dispostas a adotar modelos similares ao empregado no Brasil. A visão apresentada pelo BC tem se consolidado e já é consenso entre vários bancos centrais ao redor do globo.
“Esse é o caso de Cingapura, Coreia, Hong Kong e Japão, que já contam com projetos em fases de testes e desenvolvimento. Outros países, como Colômbia e Chile, têm demonstrado muito interesse no conceito, mas aguardam o amadurecimento dos testes atualmente em andamento para se posicionarem”, finaliza Fabio Araujo.