RAM AMEAÇA A SAÚDE GLOBAL E REPRESENTA RISCO PARA O SEGURO

RAM AMEAÇA A SAÚDE GLOBAL E REPRESENTA RISCO PARA O SEGURO

Resistência Antimicrobiana (RAM) gera preocupação mundial por ter causado, em 2019, milhões de mortes associadas a infecções que resistem a antibióticos e outros medicamentos.

Por: João Maurício Carneiro

O Brasil ainda enfrenta desafios para implementar uma estratégia de prevenção e controle na resistência à ação dos antibióticos ao tratamento de infecções, definida pelos especialistas como Resistência Antimicrobiana (RAM). O tema vem ganhando visibilidade maior em nível mundial com o surgimento dos chamados “superfungos” e “superbactérias”.

 

Na visão do superintendente executivo do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), José Cechin, a RAM é um problema em alta escala de saúde pública mundial e também no Brasil, que impacta o custo dos tratamentos tanto no âmbito do SUS quanto do sistema de Saúde Suplementar.

 

“Os índices de morbidade e mortalidade são mais elevados, e as internações, cada vez mais prolongadas, com um maior número de exames, muitos deles, diários, para acompanhar a evolução do quadro do paciente, além do gasto com antibióticos de última geração”, pontua Cechin.

 

A RAM representa um risco palpável para as seguradoras, com implicações diretas que se estendem por três dimensões principais: risco absoluto de mortalidade, risco de mortalidade por idade e custo por caso de doenças seguradas.

 

Embora seja um problema de saúde pública, José Cechin afirma que as operadoras precisam estabelecer uma política para instruir os prestadores a reportar o problema sempre que for observado nas unidades hospitalares, destacando que a instituição já está incluindo o tema na sua pauta de pesquisas.

 

PROGRAMA DA ONU

 

A resistência antimicrobiana está na lista da Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma das dez principais ameaças globais à saúde. De acordo com o relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), estima-se que, em 2019, 1,27 milhão de mortes foram atribuídas diretamente a infecções resistentes a medicamentos em todo o mundo, e 4,95 milhões de óbitos associados à RAM.

 

As principais causas são o uso indevido dos antibióticos, falta de acesso à água potável e saneamento, poluição das empresas farmacêuticas e da agricultura, movimento em massa das pessoas, mudanças climáticas e perda de biodiversidade.

 

O estudo aponta impactos na saúde e na economia, como revela o representante do Pnuma no Brasil, Alberto Pacheco Capella. “O custo econômico da RAM deve provocar uma queda anual de pelo menos US$ 3,4 trilhões do PIB mundial até 2030, levando mais 24 milhões de pessoas à pobreza extrema”, informa.

 

MINISTÉRIO DA SAÚDE

 

Criado pelo Ministério da Saúde em 2018, o Plano de Ação Nacional de Prevenção e Controle da Resistência aos Antimicrobianos no Âmbito da Saúde Única (PAN-BR) representou um avanço para a formalização de uma agenda única.

 

A responsável pela Coordenação-Geral de Laboratórios de Saúde Pública da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Marília Santini de Oliveira, explica que o PAN-BR está alinhado aos Objetivos Estratégicos estabelecidos no Plano de Ação Global da OMS, com medidas previstas para cinco anos. O primeiro período aconteceu de 2018 a 2022.

 

Segundo Marília Santini, a nova etapa do PAN-BR, prevista para o período de 2024 a 2028, está em fase de elaboração e nela se propõe harmonizar ações de saúde humana, animal e meio ambiente. “A finalidade principal é preservar a saúde da população, mantendo a capacidade do tratamento de infecções relacionadas à assistência à saúde e na comunidade”, diz.

 

Em 2018, foi iniciado o projeto-piloto para implementação do Monitoramento Nacional de Resistência Antimicrobiana (BR-GLASS), baseado no Global Antimicrobial Resistance and Use Surveillance System (Glass/OMS), para verificar a totalidade de amostras microbiológicas e seus resultados de Testes de Sensibilidade aos Antimicrobianos (TSA) em hospitais e serviços sentinela. O BR-Glass foi iniciado em cinco hospitais do Estado do Paraná e atualmente está em fase de expansão para 20 hospitais em cinco regiões do País.

 

Em janeiro deste ano, a coordenação Geral de Laboratórios de Saúde Pública da Secretaria de Vigilância em Saúde publicou o 1º Boletim Epidemiológico de Resistência Antimicrobiana, com dados de resistência no País, do período de 2015 a 2022, disponível no site do Ministério da Saúde.

 

A coordenadora Marília Santini de Oliveira enfatiza a importância de os hospitais, tanto públicos quanto privados, seguirem a legislação e manterem em funcionamento o Programa de Controle de Infecções Hospitalares (PCIH) e a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH).

 

GOVERNANÇA DO RAM

 

Em artigo publicado pela pesquisadora Luciana Correa, da Fundação Getulio Vargas (FGV), no site The Conversation Brasil, os resultados de uma pesquisa revelam inúmeros desafios para a governança da RAM no Brasil, principalmente o alinhamento e articulação política em todos os níveis de atenção à saúde e nas esferas federal, estadual e municipal, para que as prioridades nacionais e as necessidades regionais do SUS sejam contempladas.

 

“É necessário mostrar, de forma mais explícita, os impactos clínicos, sociais e econômicos, ampliando o debate por meio de pesquisas multidisciplinares que indicam estratégias de comunicação, divulgação, disseminação dos resultados e tradução dos conhecimentos para o público geral de forma mais efetiva”, propõe Luciana.