Quedas de energia impulsionam seguro de danos elétricos
Falhas no fornecimento de energia no último verão geraram multas milionárias contra distribuidoras de SP e RJ. Cobertura pode ser contratada no Seguro Residencial. Por: Mário Moreira
Em um país recordista mundial em queda de raios (cerca de 70 milhões de ocorrências por ano) e com falhas no serviço de distribuição de energia mesmo nos estados importantes da federação, fazer seguro contra danos elétricos gera uma proteção indispensável para equipamentos fundamentais em qualquer residência: de geladeiras a computadores.
A proteção contra danos elétricos é uma cobertura acessória (portanto, opcional) e pode ser contratada junto com a proteção básica de incêndio, raio e explosão, obrigatória dentro do Seguro Residencial, cobrindo danos a aparelhos eletroeletrônicos, estrutura e fiações causados por raios e descargas ou oscilações elétricas.
No caso brasileiro, esse tipo de cobertura torna-se ainda mais relevante por conta das interrupções no fornecimento de energia elétrica, frequentes sobretudo no verão, em razão das tempestades típicas da estação. Só neste ano, tais falhas levaram a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), ligada ao Ministério da Justiça, a aplicar multas milionárias às principais distribuidoras de energia do Rio e de São Paulo.
Segundo o órgão, eventos climáticos como raios e tempestades não excluem a responsabilidade da distribuidora por danos causados em virtude de falhas no fornecimento, já que são “relacionados à natureza e aos riscos da atividade empreendida”.
TV QUEIMADA
Historicamente, a cobertura de danos elétricos sempre foi bastante contratada no âmbito do Seguro Residencial, atingindo hoje de 70% a 80% dos contratos, de acordo com a vice-presidente da Comissão de Riscos Patrimoniais da FenSeg, Magda Truvilhano. “Quando as pessoas contratam o seguro de um imóvel, uma das principais preocupações é com conteúdo dele, seja casa ou apartamento. Quem nunca teve uma televisão queimada durante uma queda de raios ou uma oscilação de energia?”, questiona.
Magda destaca que a proteção para danos elétricos cobre qualquer tipo de oscilação de energia, não somente na rede elétrica, mas também nos cabos de dados, como os de internet, o que também pode danificar os aparelhos eletroeletrônicos. “E pode não ser pela ocorrência de raios, mas pela interrupção da energia por conta de uma queda de árvores durante uma tempestade”, exemplifica.
A executiva lembra que o fato de o País ser recordista na ocorrência de raios aumenta muito a importância da cobertura de danos elétricos. “A cobertura é mais contratada nas regiões Sul e Sudeste, onde a queda de raios é mais frequente e os eventos climáticos são cada vez mais comuns e severos”, afirma.
Na avaliação dela, o aquecimento global contribui para o aumento da demanda pela proteção. “A procura também pode estar atrelada às mudanças climáticas, que geram danos por oscilações elétricas causadas tanto pela queda de raios quanto pela interrupção abrupta da energia durante chuvas ou tempestades”, destaca.
MULTAS ÀS EMPRESAS
Em junho deste ano, a Senacon multou a Enel em R$ 13 milhões por problemas ocorridos na capital paulista, onde a empresa não conseguiu evitar diversos apagões entre novembro de 2023 e fevereiro deste ano — em um deles, ocorrido em novembro, milhares de empresas e residências ficaram sem energia em 23 municípios do estado, após uma tempestade com fortes ventos atingir a Grande São Paulo, provocando queda de árvores sobre a fiação.
Ainda em junho, a Ampla (Enel RJ) recebeu multa no mesmo valor por interrupções no fornecimento ocorridas no período de novembro a janeiro em cidades do interior fluminense. Em julho, foi a vez da Light, multada em R$ 12,5 milhões por negligência na gestão e demora no restabelecimento da energia em diversas áreas do Estado do Rio, também de novembro do ano passado a janeiro deste ano, com interrupções de até 30 horas.
Dados compilados pela Senacon mostram que a frequência das queixas de consumidores nas regiões atendidas pela Enel, em São Paulo, e pela Light e pela Ampla, no Estado do Rio, tem crescido nos últimos verões, o que só aumenta a importância da contratação da cobertura de danos elétricos.
Segundo a plataforma consumidor.gov.br, o número de reclamações contra a Enel no período novembro/fevereiro saltaram de 121, no verão 2021/22, para 173 em 2022/23, e para 506 em 2023/24. Contra a Ampla, no mesmo espaço de tempo, as queixas saltaram de 55 para 119 e, depois, para 385; contra a Light, de 167 para 213 e, finalmente, para 354.
Já no ProConsumidor, que substituiu o antigo Sistema Nacional de Informações de Defesa do Consumidor (Sindec), as queixas contra a Light nos três últimos verões foram, pela ordem, de 19, 76 e 129; contra a Ampla, de 9, 46 e 161, respectivamente; já contra a Enel, as reclamações totalizaram apenas cinco nesses três verões.
Segundo Magda Truvilhano, a expectativa é que a procura pela cobertura de danos elétricos se mantenha elevada e que os valores segurados aumentem, já que, em uma residência, os bens mais valiosos costumam ser justamente os equipamentos eletrônicos.