FUSÕES E INCORPORAÇÕES MOVIMENTAM A CADEIA DE SAÚDE NO PAÍS
Setor passou a ser foco de interesse de grandes redes já consolidadas no mercado, desde que a legislação brasileira permitiu a entrada de capital estrangeiro na saúde. Por: João Maurício Carneiro
Os prestadores de serviços da saúde suplementar brasileira passam por uma reestruturação do modelo de negócios e gestão. Com cerca de 4 mil hospitais e 26 mil laboratórios de medicina diagnóstica, o setor enfrenta a redução do número de unidades hospitalares e leitos e assiste ao surgimento de um novo fenômeno: o aumento do número de fusões e incorporações. Diretor da XVI Finance – consultoria especializada na cadeia de saúde –, Adriel Branco monitora todas as transações que são anunciadas pelas empresas de capital aberto.
Somente em 2020, foram divulgadas cerca de 42, contemplando a aquisição de carteira de beneficiários, operadoras, hospitais, clínicas, laboratórios e até empresas de gestão. A estimativa é que o investimento realizado em aquisições por essas empresas foi superior a R$ 10 bilhões no ano. Desde que a legislação brasileira passou a liberar a entrada do capital estrangeiro na saúde, em 2015, o setor passou a ser foco de interesse de grandes redes e complexos já consolidados.
Os prestadores estão recorrendo ao mercado de capitais para angariar fundos visando às expansões, emitindo títulos de créditos ou abrindo IPO, um processo no qual uma empresa abre capital publicamente para vender parte de suas ações pela primeira vez.
GANHO DE ESCALA
A padronização de processos e protocolos, na visão do Presidente da Associação Nacional dos Hospitais Privados (Anahp), Eduardo Amaro, vai ampliar a qualidade da atenção em saúde, enquanto o ganho de escala pode ser um aliado importante na redução de custos. “É uma estratégia interessante, uma vez que há um incremento importante de capital para investimento em melhorias, instalações e na prestação do serviço”, explica, alertando que as operações devem ser avaliadas e estudadas com muito critério, antes de ser concretizadas.
O Presidente da Federação Brasileira de Hospitais (FBH), Adelvânio Morato, afirma que, por se tratar de grandes redes de estabelecimentos já consolidadas no mercado, com expertise em gestão hospitalar e capital para investir em modernização e expansão, podem alavancar em suporte e qualidade a assistência prestada pela unidade. “Preocupa o fato de esse movimento de fusões e aquisições impactar a redução no suporte assistencial, com fechamento de determinados serviços que são importantes à população”, adverte.
O Superintendente-Executivo do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), José Cechin, reforça que, no último quarto de século, o movimento de fusões e aquisições foi intenso nas diversas áreas da saúde, principalmente entre os prestadores de serviços, que integram um mercado bastante pulverizado. Em 2019, a FBH e a Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde) publicaram o primeiro estudo sobre o cenário de fechamento de hospitais e leitos hospitalares na rede privada. Entre 2010 e 2019, foram fechados 2.127 hospitais privados e houve uma redução de aproximadamente 34 mil leitos.
O Presidente da FBH destaca que 70% dos hospitais particulares brasileiros são considerados de pequeno e médio portes. De cada dez hospitais, seis estão situados em cidades do interior e mais da metade faz atendimento pelo SUS como prestador de serviços.
MEDICINA DIAGNÓSTICA
O setor de laboratórios de medicina diagnóstica se expandiu ao longo dos anos em todo território brasileiro, encerrando 2020 com 25,5 mil empresas. Um crescimento de 51,3% nos últimos dez anos, segundo pesquisa da XVI Finance. A consultoria concluiu que, em 2019, essas empresas adquiriram 13 laboratórios de medicina diagnóstica. Atualmente, o País tem a maior rede de medicina diagnóstica da América Latina, o Grupo Dasa, com 40 marcas. Antes restritas a operações dentro do próprio segmento, com grandes laboratórios comprando pequenos e médios, agora observa-se um maior número de aquisições por grandes fundos de investimento.
Segundo o Presidente-Executivo da Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL), Carlos Eduardo Gouvêa, o objetivo é buscar operações que possam se consolidar para posterior venda no mercado, sob a forma de IPOs. “Provando-se sustentável, será benéfico para todos: incorporados, consolidadores e pacientes”, explica.
O Presidente do Conselho de Administração, da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), Wilson Shcolnik, observou que o setor movimenta cerca de mais de R$ 47 bilhões por ano e se destaca no segmento de saúde, tornando- se atrativo para a realização de investimentos por meio de fusões e aquisições. “Nesse segmento, há importantes economias de escala. As novas estruturas têm melhores condições de investimentos, algo necessário para um setor dependente de tecnologia”, analisa.