CARROS POR ASSINATURA GANHAM ESPAÇO NA ESTRATÉGIA DAS MONTADORAS

CARROS POR ASSINATURA GANHAM ESPAÇO NA ESTRATÉGIA DAS MONTADORAS

Praticidade e conveniência são pilares em que se baseia esse modelo de negócio, que vem representando também novas oportunidades para as seguradoras.

Por: Bianca Rocha

O setor automotivo pegou carona na popularização das plataformas de streaming e passou a olhar mais de perto uma geração de consumidores “viciada” em serviços on demand. Não por acaso, o modelo de negócio de carros por assinatura, antes restrito às locadoras, tem ganhado espaço na estratégia das montadoras e até de empresas de outros setores, incluindo o de seguros. Em comum entre elas, está o desejo de acompanhar e de se adequar aos novos hábitos de consumo da população, principalmente dos jovens. Simples e sem amarras, os serviços de assinatura parecem atrair uma parcela de pessoas que acham “cringe” a compra de um automóvel. De fato, a geração Z (nascida entre 1995 e 2000), responsável por ressignificar a palavra “antiquado” nas redes sociais, está no centro das atenções do mercado de carros por assinatura. Menos apegados à ideia de posse, esses jovens se importam mais em usufruir do que em ter bens.

 

Mas esse não é o único público atraído pelo conceito. Consumidores de 35 a 45 anos também têm buscado planos de assinatura para estacionar o carro dos sonhos na garagem, sem precisar desembolsar grande quantia para isso. O negócio chama a atenção até de quem tem elevado poder aquisitivo. Nesse caso, a comodidade do serviço fala mais alto: os mais endinheirados querem deixar de lado as burocracias que envolvem adquirir um automóvel (documentação, pagamento de impostos, seguro, revisão e manutenção técnica)sem abrir mão de dirigir um carro de luxo. Praticidade e conveniência são pilares em que se baseia esse modelo de negócio, que vem representando também novas oportunidades para as seguradoras. gados à ideia de posse, esses jovens se importam mais em usufruir do que em ter bens. Mas esse não é o único público atraído pelo conceito. Consumidores de 35 a 45 anos também têm buscado planos de assinatura para estacionar o carro dos sonhos na garagem, sem precisar desembolsar grande quantia para isso.

 

O negócio chama a atenção até de quem tem elevado poder aquisitivo. Nesse caso, a comodidade do serviço fala mais alto: os mais endinheirados querem deixar de lado as burocracias que envolvem adquirir um automóvel (documentação, pagamento de impostos, seguro, revisão e manutenção técnica) sem abrir mão de dirigir um carro de luxo. Praticidade e conveniência são pilares em que o modelo de negócio de carros por assinatura se baseia. Na prática, trata-se de um aluguel de longo prazo para pessoas físicas, que pode ser firmado online, com a entrega do carro na casa do cliente.

 

Em vez de comprar um veículo, a pessoa o aluga por 12, 24 ou 36 meses. E, ao final do contrato, pode renovar a assinatura e trocar de modelo, para sempre ter um zero km na garagem. Pela modalidade podem ser alugados desde os mais básicos, chamados veículos de entrada, até os mais equipados e luxuosos. Quem assina um plano deixa no passado a preocupação com o pagamento de inúmeras despesas: emplacamento, IPVA, revisão, licenciamento, manutenção e seguro. Ficam para trás também os prejuízos com a desvalorização do veículo e o trabalho de colocá- lo à venda para a troca de modelo.

 

POTENCIAL DE CRESCIMENTO

 

Os dados sobre esse negócio no País são dispersos, mas dão a dimensão de seu potencial. Segundo a Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla), 8% da frota de mais de1 milhão de veículos das empresas do segmento é destinada aos programas de assinatura – e essa participação tende a dobrar em cerca de dois anos, quando o mercado estiver mais estável. Já um levantamento feito em 2021 pela plataforma de inteligência de mercado Similar web mostrou que a busca por esse tipo de serviçona internet aumentou 56,5% entre abril e maio de 2021, com 12 milhões de visitas a 156 sites de montadoras e empresas especializadas. Em 2020,no mesmo período, foram 7,7 milhões de visitas.“Está havendo uma redução do senso de propriedade em relação ao carro, ao mesmo tempo em que há um aumento do senso de mobilidade. As empresas estão em busca de um modelo que atenda a esses anseios”, afirma o coordenador dos cursos automotivos da Fundação Getúlio Vargas, Antônio Jorge Martins.

 

O encarecimento dos modelos zero km e o receio de gastar um valor alto ou encarar uma dívida para comprar um carro novo podem explicar o aumento do interesse pela modalidade de assinatura – assim como a pandemia, em razão do medo da transmissão do vírus e o risco de contágio nos transportes públicos e nos carros de aplicativo.

 

CONSUMIDOR JOVEM

 

O serviço de assinatura Renault On Demand, lançado pela montadora em janeiro de 2021, tem planos de 12, 18 ou 24 meses. No momento da adesão, o cliente pode escolhera quilometragem a ser rodada (1 mil, 1,5 mil e2 mil quilômetros mensais). Para Romain Darmon, gerente-geral da empresa, o novo serviço chegou para atender a uma fatia de consumidor mais jovem, que não tem tanto apego à posse, e àqueles que haviam migrado para o transporte coletivo, mas voltaram atrás por causa da pandemia. “A comodidade é um grande apelo do serviço. A lista de interessados inclui pessoas que querem trocar de veículo uma vez ao ano e aqueles que não querem lidar com a burocracia associada à compra”, afirma Darmon.

 

 

Os planos de assinatura de carro da Renault incluem os serviços de manutenção (revisões preventivas e troca de peças devido ao desgaste natural e de pneus); gestão de todos os documentos e taxas relacionados ao veículo; seguro contra roubo, furto, incêndio e danos a terceiros; e assistência 24 horas (reboque, chaveiro, carro reserva e outros). Um dos carros preferidos dos assinantes é o Kwid Outsider, cujo contrato mensal varia de R$ 1,1 mil a R$ 1,44 mil.“Conseguimos uma boa negociação com nossa parceira na área de seguros para manter a proposta all inclusive a um custo interessante. No caso do seguro, temos proteção contra danos ao veículo e contra terceiros inclusos na assinatura padrão; na segunda, não é cobrada franquia. Temos também cobertura para vidros e faróis com franquia reduzida”, complementa.

 

CONTRATAÇÃO ONLINE

 

O programa Flua!, criado também em janeiro de 2021, é uma iniciativa do grupo Stellantis (holdingda Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën), se destaca pela contratação totalmente online. Ao conectara plataforma, o consumidor escolhe o modelo e define pacote de quilometragem e duração do contrato. Para finalizar, a assinatura do contrato é via e-mail. O veículo é retirado na concessionária Fiat ou Jeep selecionada. O Fiat Mobi é um dos líderes na preferência dos assinantes com a versão Trekking, que tem 12parcelas de R$ 1,2 mil (para franquia mensal de 1mil km) a R$ 1,6 mil (3 mil km).

 

Para o Jeep Renegade Longitude, o plano de 36 meses custa de R$ 2,1 mil a R$ 2,45 mil.“O mundo mudou, e ter carro ficou diferente. Nosso objetivo não é fazer com que o consumidor migre do modelo tradicional de compra para o de assinatura, mas atrair um novo perfil de cliente, que deseja ter sempre um carro novo e soluções de conveniência na palma da mão”, explica Larissa Barreto, head de Operações do Flua! O seguro do automóvel incluído no contrato é formatado em parceria com a Zurich Seguros. O Movida ZeroKM, lançado em março de2020 pela locadora de mesmo nome, é um produto criado para atrair novos clientes, mas também para agradar os que já estão na base da empresa. O diretor-executivo do programa, Rafael Tamanini, diz que a empresa vinha observando uma demanda maior por conveniência e praticidade por parte do público que já atende nos serviços de locação tradicional.“Apostamos muito nesse modelo de assinatura. Acreditamos que vai ser o maior mercado de locação de carros no futuro”, afirma Tamanini. O executivo informa que o braço de assinatura da Movida vem registrando margem de Ebitda (lucro antes de impostos, juros, depreciação e amortização),TIR (Taxa Interna de Retorno) e ROIC (Retorno sobre Capital Investido) maiores do que todos os outros segmentos da empresa.

 

NOVAS OPORTUNIDADES

 

Para Marcelo Sebastião, presidente da Comissão de Automóvel da FenSeg, a ascensão da modalidade de carros por assinatura configura uma nova oportunidade de negócio para as seguradoras. O contrato de seguro para esse segmento é feito com as empresas que oferecem o serviço,com o objetivo de segurar a frota disponibilizada nos planos de assinatura. A precificação, segundo Marcelo, não é um grande desafio.“O público que opta pela assinatura permanece com o carro por um período de dois anos em média e, por isso, tende a cuidar do veículo como se fosse dele. É diferente, por exemplo, do cliente tradicional de locação. Então, o risco é muito próximo do que é previsto no seguro individual. Mas é um mercado novo, o setor de seguros ainda está tateando”, explica. Algumas possibilidades precisam ser consideradas nessa avaliação de risco, diz o representante da FenSeg, entre elas, o uso do automóvel por parte do condutor. “O veículo usado para lazer é diferente daquele para exercício do trabalho e até como locomoção diária, quando o risco aumenta consideravelmente.

 

Importante a seguradora observar bem os critérios e ter um bom leque de perguntas para entender o modelo de negócio da empresa que oferta o serviço de assinatura e cobrar corretamente”.Na opinião de Marcelo, o seguro deve contemplar uma boa garantia de danos a terceiros,com cobertura de responsabilidade civil acimada média. “O valor dos carros hoje está na base de R$ 70 mil a R$ 80 mil, podendo chegar a mais de R$ 300 mil, dependendo do modelo e da marca. Se porventura o condutor causar danos numa Lamborghini ou num Palio Weekend de terceiros,que ele esteja coberto. O contrato precisa definir bem esses pontos”.

 

O professor José Varanda, coordenador de Graduação da Escola de Negócios e Seguros(ENS), lembra que as novas regras de Seguro Auto, editadas pela Susep no início de setembro,podem impactar o mercado de carros por assinatura. “O seguro, a partir de agora, pode estar vinculado ao condutor e não mais ao veículo. Esse tipo de produto ainda está sendo estudado pelas seguradoras. O desafio é a precificação. A empresa que oferta serviço de assinatura vai poder optar entre incluir no pacote um seguro ou aceitar a proteção já previamente contratada pelo condutor”, explica.

 

Larissa Barreto, do programa Flua!, diz que todos os carros disponibilizados para assinatura contam com equipamento de telemetria. Com ele, já é possível ler informações dos clientes sobre o total de quilômetros rodados; número de viagens; tempo dirigido em horas; previsão de consumo do pacote mensal com base na média diária de quilometragem; excesso de velocidade em vias; acelerações, freadas e curvas bruscas e movimento desengrenado, entre outros dados.“Com base no histórico dos clientes, poderemos desenvolver, em parceria com seguradoras,modelos diferenciados de seguro que sejam mais aderentes ao modelo pay as you drive. Mas esse é um projeto para o próximo ano”, afirma.