Consequências da nova política econômica americana

Consequências da nova política econômica americana

No longo prazo, as medidas podem comprometer o crescimento global e gerar instabilidades tanto nos países desenvolvidos quanto nos emergentes.

Por: Carlos Thadeu de Freitas Gomes

A política econômica adotada pelo governo de Donald Trump tem exercido uma forte influência sobre os mercados globais, impactando diretamente as taxas de juros e o comércio internacional. As medidas protecionistas e as mudanças nas tarifas de importação impostas afetam o crescimento econômico de diversos países, incluindo o do Brasil.

 

Isso ocorre porque o aumento das tarifas eleva os preços nos Estados Unidos, pressionando a inflação e consequentemente levando o Federal Reserve (Fed) a elevar as taxas de juros. Esse movimento se propaga globalmente, resultando em um cenário de aperto monetário em diversas economias, o que pode desacelerar a atividade econômica e tornar a condução da política monetária mais desafiadora. 

 

A relação entre as taxas de juros americanas e as dos demais países é um fator determinante para a economia global. Quando os juros nos Estados Unidos sobem, investidores tendem a direcionar seus capitais para ativos americanos, reduzindo os fluxos financeiros para países emergentes. Como consequência, essas economias precisam aumentar suas próprias taxas de juros para evitar a desvalorização de suas moedas e a fuga de investimentos. Esse cenário limita o crescimento econômico, pois o encarecimento do crédito desestimula tanto o consumo quanto os investimentos produtivos. 

 

Além disso, a política tarifária adotada por Trump tem um impacto expressivo no comércio internacional. O aumento das tarifas reduz o volume de transações comerciais, afetando negativamente o Produto Interno Bruto (PIB) de diversas nações. No entanto, o Brasil tende a ser relativamente menos impactado nesse aspecto, pois seu principal parceiro comercial é a China. Com as barreiras impostas pelos Estados Unidos, as relações comerciais entre Brasil e China tendem a se intensificar, fortalecendo ainda mais a parceria econômica entre os dois países. 

 

Outro fator relevante é o impacto das tarifas sobre a dinâmica do comércio exterior. Países em desenvolvimento que dependem fortemente do comércio internacional podem sofrer com a redução da demanda por seus produtos, o que pode impedir cortes nas taxas de juros nesses países. A China, por sua vez, tende a adotar medidas protecionistas em resposta às políticas americanas, pressionando ainda mais as taxas de juros globais e impactando o crescimento econômico de nações emergentes. 

 

As tarifas impostas por Trump no comércio com o México e o Canadá foram adiadas para março. Essas tarifas, além de provocar ameaças de retaliação por outros países, geram incerteza nos mercados, pois podem encarecer insumos e produtos globalmente. Essa elevação de preços tende a pressionar a inflação, reduzindo o poder de compra das famílias e dificultando o planejamento das empresas. 

 

No Brasil, um dos setores mais vulneráveis à guerra comercial promovida por Trump é o de alumínio. Os Estados Unidos representam cerca de 25% das exportações brasileiras desse produto, que já enfrenta uma taxação de 10% para entrar no mercado americano. Com as novas ameaças de sobretaxas, a indústria brasileira de alumínio pode sofrer perdas significativas, reduzindo sua competitividade e participação naquele mercado. 

 

A política protecionista dos Estados Unidos também traz consequências para a própria economia americana. Embora o aumento de tarifas possa gerar um crescimento econômico artificial no curto prazo, os efeitos de longo prazo tendem a ser prejudiciais. Um exemplo disso ocorreu no governo de George W. Bush em 2002, quando foram impostas tarifas sobre o aço. Na ocasião, houve retaliações comerciais e uma perda de aproximadamente 200 mil empregos em setores que dependiam da liga metálica, superando os empregos preservados na indústria siderúrgica. 

 

Outro risco associado às tarifas protecionistas é o impacto inflacionário já mencionado. O aumento dos custos de importação pode elevar os preços internos, reduzindo o consumo das famílias e pressionando os custos das empresas. Além disso, as retaliações comerciais por parte de outros países podem reduzir as exportações americanas, prejudicando o crescimento da economia dos Estados Unidos. Diante desse cenário, o Fed pode ser forçado a adotar uma política monetária mais cautelosa, restringindo ainda mais a expansão econômica. 

 

Em suma, a nova política econômica americana, baseada no protecionismo e no aumento de tarifas, tem implicações que ultrapassam as fronteiras dos Estados Unidos. A elevação das taxas de juros, a retração do comércio internacional e os riscos inflacionários afetam economias ao redor do mundo, tornando o ambiente econômico mais incerto e desafiador. 

 

No Brasil, embora a parceria comercial com a China possa amenizar parte dos impactos negativos, setores como o de alumínio podem ser fortemente prejudicados. No longo prazo, as consequências dessas políticas podem comprometer o crescimento global e gerar instabilidades que afetarão tanto os países desenvolvidos quanto os emergentes.