Erupção vulcânica: ameaça oculta e danos globais na casa dos trilhões
Estudos do Lloyd’s estimam perdas de até US$ 4,8 trilhões em um prazo de cinco anos após a ocorrência mais severa desse tipo de desastre natural. Esses eventos podem desacelerar o PIB global de 0,2% a 0,7%. Por: Vagner Ricardo
Em tempos de desastres naturais extremos, quais seriam as consequências de uma erupção vulcânica severa sobre a economia global? Em busca de respostas, o Lloyd’s desenhou os cenários possíveis de danos causados pelos riscos vulcânicos e estimou perdas de US$ 1,3 trilhão a US$ 4,8 trilhões no prazo de até cinco anos após a ocorrência, dependendo do nível de severidade. Esses eventos, entre menos e mais severos, podem gerar desaceleração de 0,2% a 0,7% do PIB global.
Embora rara, uma erupção de grande magnitude não é peça de ficção. Além dos 1,5 mil vulcões ainda ativos no globo terrestre — e de parcela em locais desconhecidos —, acredita-se que um bilhão de pessoas vivam no entorno deles, numa distância de até 160 quilômetros. A Associação Internacional de Vulcanologia e Química do Interior da Terra (IAVCEI) nomeou 16 “vulcões da década”, classificação usada para aqueles que apresentam ameaça mais imediata.
A localização de alguns deles perto de centros populacionais, como Seattle, Metro Manila e Nápoles, por exemplo, é o que pode tornar a erupção em um fenômeno de cauda longa, desencadeando efeitos secundários e terciários capazes de se converterem em um risco sistêmico. Japão, China e Estados Unidos são os países que mais podem sentir os efeitos econômicos dos riscos vulcânicos.
IMPACTOS IMEDIATOS
Ainda estão na lista os vulcões adormecidos, que, mesmo representando risco menor, não podem ser ignorados. Na Península de Reykjanes, na Islândia, o vulcão Fagradalsfjall, que estava adormecido havia 800 anos, entrou em erupção em 2021 e continuou a ter uma série de erupções nos últimos três anos. Resultado: a Islândia declarou “estado de emergência”. Felizmente, o evento Fagradalsfjall ainda não se materializou.
Nuvens pesadas podem sombrear diversas atividades. De imediato, os setores de aviação, turismo e telecomunicações são os primeiros a sentir os impactos, mas a lista cresce considerando-se os efeitos mais prolongados. No estudo, a estimativa avança até cinco anos da eclosão de rios de lava derretida, nuvem de cinzas, bombas vulcânicas etc.
Isso porque gases quentes, lava e matéria vulcânica são ejetados do vulcão por mais de 48 horas, e muitos outros produtos químicos nocivos agora estão no ar, diz o estudo. “Uma coluna de ejeção de 30km de altura envia cinzas e depósitos de tefra para a atmosfera, e estes se espalham pela área ao redor, alguns atingindo a estratosfera.”
Cinzas e tefra na estratosfera provocam ‘forçamento radiativo’ — aerossóis vulcânicos e nuvens que absorvem a radiação do sol, durando de dois a três anos. No cenário mais severo, significa que as temperaturas globais esfriam devido à erupção, contribuindo para mudanças sazonais que podem afetar as plantações e contribuir para um período de instabilidade alimentar global. No mercado de resseguros, diversos planos são oferecidos para atenuar as perdas de origem vulcânica, mas não podem dar conta de tudo.