Geração “Nem-nem” é um desafio para mercados mundiais

Geração “Nem-nem” é um desafio para mercados mundiais

OIT cobra ações assertivas para baixar desemprego global de 13% entre os jovens. Oportunidades são mais restritas em economias emergentes e em desenvolvimento.

Por: Vagner Ricardo

O número de jovens sem emprego e fora das escolas — a chamada “geração nem-nem” — cria dificuldades para que seja incorporado “sangue novo” aos quadros das empresas ou nos mercados globais de consumo em larga escala.

 

Segundo um novo relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), divulgado em agosto, um em cada cinco jovens no mundo (ou cerca de 20%) era considerado “nem-nem” no ano passado. Essa elevada proporção de jovens trabalhadores desalentados tem outro componente negativo: disparidades regionais e de gênero. Em 2023, dois em cada três deles eram mulheres.

 

No Brasil, essa parcela representa 19,8% dos jovens de 15 a 29 anos, aponta a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada em 22 de agosto pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Eram 9,6 milhões de pessoas em 2023. O estudo revelou ainda que 15,3% dos jovens trabalhavam e estudavam, 39,4% apenas trabalhavam e 25,5% apenas estudavam.

 

Em 2023, a taxa global de desemprego juvenil foi de 13%, o equivalente a 64,9 milhões de pessoas. Mesmo sendo o nível mais baixo em 15 anos — e levada em conta a perspectiva de baixa contínua nos próximos dois anos —, a OIT considera essa taxa elevada, sobretudo porque há regiões em que os benefícios da recuperação econômica mundial após a pandemia da Covid-19 continuam em marcha lenta. “Jovens de determinadas regiões e muitas mulheres não estão sentindo os benefícios da recuperação econômica”, descreve o estudo.

 

Nos Estados Árabes, na Ásia Oriental, no Sudeste da Ásia e no Pacífico, as taxas de desemprego juvenil foram mais altas em 2023 do que em 2019. Mesmo assim, a previsão da OIT é de que a taxa de desemprego entre jovens recue um pouco mais até o próximo ano, situando-se em 12,8%.

 

A OIT, no entanto, ratifica que a taxa permanecerá sem uniformidade entre as diversas regiões. Isso porque jovens enfrentam outros “ventos contrários” para alcançar o sucesso no mundo do trabalho: as oportunidades de acesso a empregos decentes continuam limitadas em economias emergentes e em desenvolvimento.

 

Mesmo entre os jovens empregados, a OIT aponta problemas. Falta de progresso nos cargos que ocupam está entre eles. De qualquer forma, isso parece um privilégio, olhando o quadro global. O estudo, após assinalar que emprego permanente e seguro para jovens é mais comum apenas nas economias de média e alta renda, constata que, em todo o mundo, mais da metade dos jovens têm ocupações informais e jornada extenuante.

 

Pelas contas da OIT, três em cada quatro jovens que trabalham em países de renda baixa apenas encontram emprego por conta própria ou trabalho remunerado temporário. O relatório destaca que “jovens que estão fora do mercado de trabalho e de programas de educação ou treinamento, e o crescimento insuficiente de empregos decentes” provocam uma ansiedade crescente.

 

“Nenhum de nós pode esperar um futuro estável quando milhões de jovens ao redor do mundo não têm trabalho decente e, como resultado, estão se sentindo inseguros e incapazes de construir uma vida melhor para si e suas famílias. Sociedades pacíficas dependem de três ingredientes principais: estabilidade, inclusão e justiça social, e o trabalho decente para os jovens está no cerne dos três”, escreveu Gilbert F. Houngbo, diretor-geral da OIT.

 

QUESTÃO DE GÊNEROS

Não bastasse, o relatório diz que a recuperação do mercado de trabalho agora beneficia mais os homens do que as mulheres jovens. Segundo a OIT, as taxas de desemprego juvenil de mulheres e homens em 2023 eram praticamente iguais (12,9% para mulheres jovens e 13% para homens jovens).

 

Esse comportamento destoa dos anos anteriores à pandemia, quando a taxa de homens jovens desocupados era bem maior. Acrescente-se a isso o fato de a taxa mundial de “nem-nem” entre as mulheres jovens duplicou em comparação à dos homens jovens (28,1% e 13,1%, respectivamente) em 2023.

 

O relatório cobra melhores políticas para absorver mais mão de obra jovem e sugere o crescimento da oferta de serviços “modernos” e de empregos no setor manufatureiro para os jovens, algo ainda limitado, mas reconhece que a modernização de setores tradicionais, via digitalização e uso da inteligência artificial, afetará o potencial de vagas.

 

O documento acrescenta que também não há empregos altamente qualificados suficientes para suprir a demanda de jovens instruídos, especialmente em países de renda média – e recomenda manter o desenvolvimento de qualificações em sintonia com as crescentes demandas por habilidades verdes e digitais, classificadas como fundamental para reduzir as incompatibilidades educacionais.

 

Também o número crescente de conflitos deve estar no radar, porque ameaça os meios de subsistência dos jovens, podendo levá-losem direção à migração ou ao extremismo. Uma equação que até agora não fecha, mas exige maiores esforços.