Indústria 4.0 e seguros: mitigando riscos e impulsionando inovação

Indústria 4.0 e seguros: mitigando riscos e impulsionando inovação

A gestão das seguradoras é essencial para orientar investimentos, mitigar perdas e enfrentar desafios da transformação digital e mudanças climáticas.

Por: Renata Batista

Transformação digital, aceleração das mudanças climáticas, responsabilidade pelos produtos desde a manufatura até o descarte e demanda por produção e tecnologia de processamento de novos insumos — os minerais críticos. Os desafios da chamada Indústria 4.0 não são pequenos, e cada um deles se desdobra em centenas de riscos que podem gerar prejuízos de bilhões. Isso torna a expertise do setor de seguros em mapear e precificar riscos ainda mais estratégica.

 

A avaliação é do consultor em Inovação e Governança, André Echeverria, para quem o setor de seguros deve trabalhar ao lado da indústria no gerenciamento de riscos, inclusive na origem das estratégias para mitigar riscos e gerar vantagem competitiva.

 

“Alguns agentes podem ser o ponto de partida para uma proposta de inovação: a própria indústria, startups e consultorias. As seguradoras podem e devem ser um desses agentes, já que detêm tecnologias para reduzir riscos e custos”, afirma.

 

O fato é que o mercado segurador brasileiro já oferece um leque de produtos voltados para a transição energética e a transformação digital da indústria. Seguros patrimoniais, de garantia ambiental, responsabilidade civil por poluição e riscos operacionais são alguns que têm demanda crescente no novo cenário, além de coberturas para equipamentos de geração de energia renovável e para sistemas automatizados.

 

Mas a velocidade da digitalização e as mudanças climáticas colocam novas questões no horizonte, algumas ainda desconhecidas e outras recorrentes, como catástrofes ambientais.

 

Para Claudia Prates, diretora de Sustentabilidade da CNseg, a integração de dados e critérios de risco pode fortalecer a resiliência das empresas e também criar condições para ampliar o acesso aos seguros em diferentes setores e grupos sociais.

 

GESTÃO DOS RISCOS

 

O desafio é ampliar a capacidade de cobertura sem inviabilizar financeiramente o setor. Não por acaso, a Circular Susep nº 666 exige a gestão e integração dos riscos de sustentabilidade de uma forma ampla, com adoção de política de sustentabilidade, padrões de classificação de materialidade dos riscos e publicação de relatórios de sustentabilidade.

 

No caso dos riscos climáticos, a Susep definiu que devem ser classificados em três categorias: físicos (como intempéries severas), de transição (associados à mudança para economia de baixo carbono) e de litígio (decorrentes de falhas na gestão desses riscos).

 

A expectativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) é que essa nova abordagem resulte em novas parcerias entre os setores industrial e de seguros. A ideia é contar com recursos do mercado segurador, no papel de investidor institucional, para novos negócios e projetos de infraestrutura preventiva.

 

Na avaliação do superintendente de Projetos de Inovação da CNI, Carlos Alberto Bork, casos como o do Rio Grande do Sul, atingido por enchentes, mostram que o Brasil precisa acelerar investimentos em prevenção. “Em 2024, os prejuízos chegaram a R$ 500 bilhões. Um sistema de proteção poderia ter sido implantado por apenas R$ 10 bilhões. É caro no começo, mas se paga no primeiro episódio”, afirmou, frisando que as federações das indústrias regionais têm os investimentos necessários mapeados.

 

Para Bork, tudo o que puder ser feito para minimizar o impacto das mudanças climáticas deve ser feito. “As tecnologias existem, falta acelerar sua adoção, e as análises de risco do setor de seguros podem ser a chave para isso. Daqui a pouco, os riscos estarão espalhados por outras regiões”, afirma.

 

ELOS DA CADEIRA

 

O Plano Clima define metas para diferentes setores da economia e, no caso da indústria, a expectativa é reduzir emissões para até 198 milhões de toneladas de CO2 equivalente em 2030. Para apoiar esse esforço, há recursos como os do Fundo Clima, por exemplo. Operado pelo BNDES, o fundo apoia investimentos em projetos de mitigação e adaptação e, no biê­nio 2024-2025, seus aportes devem superar os R$ 20 bilhões, viabilizados em parceria com o mercado segurador, que atua, por exemplo, por meio de seguro garantia.

 

Aloisio Melo, secretário nacional de Mudança do Clima, explica que o Ministério do Meio Ambiente (MMA) também coordena, junto com o Ministério da Fazenda (MF), o EcoInvest. A ideia é combinar recursos públicos e privados voltados a investimento para essas finalidades, contemplando projetos industriais.

 

Um exemplo é a Plataforma de Investimentos Climáticos e para a Transformação Ecológica (Plataforma BIP), que reúne projetos para captação de investimento externo e doméstico. Além do MF e do MMA, a iniciativa envolve os ministérios do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) e de Minas e Energia (MME) e está alinhada com a Missão 5 do esforço de cumprimento das metas, com foco na bioeconomia, descarbonização e transição e segurança energéticas.

 

“Os desafios são amplos e envolvem outros elos da cadeia, como os combustíveis”, afirma o secretário, citando o esforço para ampliar em 50% a participação dos biocombustíveis na matriz energética de transportes.

 

A participação direta da indústria nas emissões é relativamente pequena, cerca de 12%. No entanto, o segmento também tem metas de redução, que devem ficar em até 198 milhões de toneladas de CO2 equivalente em 2030.