Inteligência Climática Torna Subscrição de Riscos Mais Segura

Inteligência Climática Torna Subscrição de Riscos Mais Segura

Como as inovações tecnológicas, com a aplicação da IA em questões do clima, estão revolucionando e ajudando na proteção de ativos e na prevenção de riscos.

Por: Rodrigo Freitas

Os dez maiores riscos para a economia global na próxima década estão ligados ao clima e ao meio ambiente, aumentando os fortes impactos sobre o setor de seguros, que são crescentes. Segundo o Swiss Re Institute, as perdas globais seguradas por catástrofes naturais alcançaram US$ 137 bilhões no ano passado, com tendência de alta para os próximos anos. No Brasil, dados oficiais apontam que, desde 1990, foram registradas mais de 64 mil ocorrências relacionadas a eventos climáticos, com média anual que ultrapassa quatro mil episódios no último quadriênio.

 

Um sinal do risco ao mercado segurador é a inviabilidade do seguro residencial em regiões da Califórnia e da Flórida (EUA), por exemplo, devido à frequência de furacões e incêndios. Diante desse cenário, a boa notícia é que avançam também as inovações tecnológicas que podem auxiliar na previsão desses eventos. É a chamada Inteligência Climática, uma ferramenta hoje obrigatória e eficiente no setor de seguros.

 

“Inteligência Climática é a aplicação da inteligência artificial às questões de clima. Precisamos dessa ferramenta para calcular os novos riscos, que não são os mesmos de dez anos atrás. Hoje, isso é estratégico para o setor de seguros”, diz Paulo Artaxo, professor da USP e membro da Academia Brasileira de Ciências.

 

O professor atesta que são muitos os avanços recentes nesta área de pesquisa e ciência. “Os maiores progressos foram na capacidade de processamento e no cruzamento de dados nos chamados supercomputadores e também no desenvolvimento de softwares mais eficientes, que podem ser utilizados pelas seguradoras”, destaca.

 

DADOS CRUZADOS

 

Não por acaso, já existem no mercado nacional empresas e startups que desenvolvem e oferecem soluções de previsão climática. Outra ferramenta ligada à Inteligência Climática é o Adapta Brasil, plataforma do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) aberta a todos, que fornece dados que ajudam na antecipação de problemas decorrentes da ação do clima, entre outras aplicações.

 

“Antes, contava-se apenas com a observação e a coleta de informações dos satélites, por exemplo. Hoje, com a ajuda da IA e do chamado Big Data, esses dados são cruzados com grande velocidade e a partir de séries históricas, permitindo a modelagem de soluções”, diz o pesquisador e coordenador do Centro de Ciências do Sistema da Terra (CCST/Inpe), Jean Ometto. “Sempre haverá um grau de imprevisibilidade. Mas, quanto mais dados, menos incertezas”, acrescenta ele.

 

Mais e mais seguradoras já trilham o caminho da Inteligência Artificial. “Os investimentos em tecnologia são mandatórios, e as novas tecnologias auxiliam ao fornecer rapidez e eficiência nas análises e no processo de gerenciamento de risco”, afirma Felipe Nascimento, CEO da Mapfre, que cita o uso de sensoriamento remoto, drones e sistemas de informação geográfica.

 

“As tecnologias podem ajudar na elaboração de mapas topográficos capazes de indicar as áreas mais vulneráveis e na identificação de melhores rotas de evacuação em um plano de emergência”, detalhou.

 

Na Zurich Seguros, a aplicação de Inteligência Climática é observada em soluções, como o programa Mais Resiliência. “A ferramenta oferece às empresas serviços como análises de vulnerabilidades e simulações de incidentes, combinando IA com o conhecimento técnico da seguradora”, diz Tiago Santana, superintendente da Área de Engenharia de Riscos da seguradora.

 

REGULAÇÃO DE SINISTROS

 

Também se destaca o uso de ferramentas de IA na regulação de sinistros, com redução expressiva nos prazos de análise e aprovação, como, por exemplo, no seguro de automóvel e no seguro de celular.

 

Ciente do seu papel social e reconhecido por sua expertise em gerenciamento de riscos, o setor de seguros vem se consolidando como um pilar estratégico no combate aos efeitos das mudanças climáticas. Com a ajuda da IA, e a partir da análise de dados meteorológicos, registros de sinistros (riscos previstos em contrato) e simulações avançadas, as seguradoras em todo o mundo têm criado ‘hubs climáticos’ — centros especializados capazes de gerar informações críticas que orientam decisões no agronegócio, na infraestrutura, na energia e até no planejamento urbano. São estruturas que ajudam empresas e governos a antecipar riscos ambientais.

 

“Somente com uma atuação conjunta entre os setores público e privado encontraremos soluções para os desafios das mudanças climáticas”, diz o professor Artaxo. Uma equação sem grau de incertezas: mais informação e tecnologia é igual a menos riscos.