INVESTIDORES ESTÃO DE OLHO EM PROJETOS QUE ATENDAM MÉTRICAS ASG

INVESTIDORES ESTÃO DE OLHO EM PROJETOS QUE ATENDAM MÉTRICAS ASG

As seguradoras brasileiras devem fazer análise criteriosa das medidas de sustentabilidade dos projetos de infraestrutura para que sejam garantidoras da adoção dos preceitos ASG.

Por: Fernanda Thurler

Odesenvolvimento de um projeto de infraestrutura sustentável poderá significar para a economia brasileira um excelente ganho de oportunidade. E a adesão aos preceitos ASG (ambientais, sociais e de governança) pelas empresas brasileiras, longe de representar um risco, poderá resultar em diferencial competitivo e geração de negócios. A avaliação é da presidente da Comissão de Grandes Riscos da FenSeg, Thisiani Martins.

 

O potencial de investimento verde no Brasil é estimado hoje em US$ 1,3 trilhão, considerando apenas os setores de energia, transporte, edificações, gestão de resíduos e eficiência energética industrial. E, segundo estudos da Brazil Green Finance Programme, o volume de captação global de recursos no País pode chegar a R$ 3,6 trilhões até 2040. A sustentabilidade desses projetos é medida pelas análises que buscam avaliar riscos e impactos do investimento, considerando os três fatores do acrônimo ASG.

 

“À medida que incluírem na análise de riscos das apólices a avaliação criteriosa dessas métricas, as seguradoras se tornarão garantidoras da adoção dos preceitos ASG pelas empresas”, afirma Thisiani, acrescentando que essas medidas, no médio prazo, poderão impactar a oferta de seguro para essas companhias. “Ao aderir às práticas ASG, as empresas também poderão ter vantagens em relação às condições do seguro”, ressalta.

 

O fato é que a análise de risco climático dos projetos de infraestrutura e a adoção de medidas adequadas de mitigação (para evitar ou diminuir danos em eventuais casos de eventos extremos) são hoje uma preocupação de governos e investidores em todo o mundo. E a aliança entre infraestrutura e sustentabilidade aumenta as possibilidades de investimentos no País, tornando o Brasil mais competitivo na atração do capital externo de longo prazo.

 

“O Brasil pode se tornar um celeiro de oportunidades para investidores que buscam fazer suas alocações financeiras em projetos que atendam aos critérios socioambientais”, analisa Rodrigo De Losso, PhD pela Universidade de Chicago e professor titular da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP). Ele avalia que a atual situação econômica do País demanda significativa injeção de recursos em projetos de infraestrutura, e os investidores institucionais devem aproveitar a oportunidade para expandir a aplicação de capital nesse setor, apostando em projetos que atendam métricas ASG.

 

O professor De Losso argumenta ainda que a maior atratividade dos projetos está na possibilidade de aproveitar os incentivos que são dados para potencializar o retorno dos investimentos. “Os projetos de infraestrutura, apesar da insegurança jurídica do País, geram retornos consideráveis. E o investimento em infraestrutura sustentável, implementado por meio de mecanismos apropriados e gerenciado de forma eficiente ao longo do ciclo de vida do projeto, pode ser decisivo para o desenvolvimento econômico e bem- estar social do País”, diz De Losso.

 

PROJETOS DO GOVERNO

 

Atento a essas novas diretrizes do mercado, o Governo brasileiro está fazendo sua parte, garantiu a investidores o Ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, em evento recente, referindo-se à incorporação do conceito ASG aos projetos do Governo Federal, mais especificamente aos do setor de transportes. A meta do Governo é chegar até o fim de 2022 com aproximadamente R$ 260 bilhões em investimentos contratados pela iniciativa privada.

 

“Em pouco mais de dois anos e meio, o Governo Federal, por meio do Ministério da Infraestrutura, realizou 77 leilões na área de infraestrutura de transportes, gerando a atração de quase R$ 90 bilhões em investimentos privados, com a expectativa de criar 1,2 milhão de postos de empregos ao longo dos próximos anos”, disse Gomes de Freitas, ao apresentar oportunidades de investimentos a fundos árabes em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, em meados de novembro do ano passado.

 

Ele informou que a incorporação dos conceitos ASG nos projetos tem o objetivo de levar tranquilidade aos investidores e mitigar o risco de imagem “Estamos apostando no pressuposto de que os padrões ambientais vão governar os fluxos financeiros”, afirmou. No cronograma de licitações para 2022, o destaque fica por conta da sétima rodada de leilões na área da aviação, com a concessão de 16 aeroportos (entre eles, Congonhas/SP e Santos Dumont/RJ); das desestatizações portuárias da Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa) e do Porto de Santos (SP) e de novos projetos rodoviários, como das BRs 116, 493 e 465, entre Rio de Janeiro e Governador Valadares (MG), e do anel de integração do Paraná, com mais de R$ 44 bilhões em investimentos.

 

RISCOS AMBIENTAIS

 

De qualquer forma, a adequação dos projetos de desenvolvimento aos fatores ASG nem sempre tem sido suficiente para garantir a participação de investidores internacionais nos processos licitatórios no País, especialmente quando se referem a áreas de alta sensibilidade ambiental. Foi o caso do leilão dos blocos de exploração de petróleo na região de Fernando de Noronha e do Atol das Rocas (Bacia de Potiguar), programado para o início de outubro pela Agência Nacional de Petróleo (ANP), mas não efetivado em razão da falta de compradores.

 

Os riscos ambientais à região foram alertados por ambientalistas e pesquisadores, inclusive pelo Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMBio), que, em nota técnica divulgada em janeiro de 2020, classificou como “temerária” a oferta dos blocos no leilão, tendo em vista que nas áreas existem 61 espécies ameaçadas de extinção, sendo 23% criticamente em perigo, 18% em perigo e 59% consideradas vulneráveis.

 

A consideração sistemática das questões ASG tem sido um elemento central na análise de investimentos e gestão de riscos de credores, investidores e seguradores por todo o planeta, alerta o Banco Interameri cano de Desenvolvimento (BID). Em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento de Infraestrutura do Ministério da Economia, o organismo desenvolveu o estudo intitulado Marco de Infraestrutura Sustentável, com o objetivo de criar soluções para reduzir o déficit de investimentos nos projetos de infraestrutura no País, por meio de soluções sustentáveis e melhorias no ambiente de negócios.

 

O projeto proveu insumos valiosos para a consolidação da agenda de infraestrutura sustentável brasileira, que hoje ostenta um déficit de financiamento de aproximadamente US$ 49,5 bilhões por ano, de acordo com dados do Global Infrastructure Hub do G20. O documento analisa o fator sustentabilidade sob as seguintes dimensões: econômica e financeira, ambiental, social e institucional.