MOVIMENTAÇÃO DE GRÃOS NAS RODOVIAS GERA RISCOS PARA OS SEGUROS

MOVIMENTAÇÃO DE GRÃOS NAS RODOVIAS GERA RISCOS PARA OS SEGUROS

Safra recorde impulsiona carteira de transportes, mas a frota de caminhões com idade avançada aumenta riscos de acidentes que podem gerar perdas crescentes.

Por: Vagner Ricardo

Mais uma vez, o agro vai puxar a demanda de seguros de transporte de cargas no País. Essa propulsão tem relação direta com a safra recorde de grãos estimada para este ano. Há, contudo, uma série de empecilhos na rota da movimentação rodoviária de mercadorias, como panes mecânicas, acidentes, roubo e furto, falhas humanas etc. Esses acidentes de percurso comprometem o desempenho das seguradoras e os ganhos de produtores rurais e geram riscos de quebra de contratos das tradings agrícolas. 

 

“O agro é propulsor da carteira de transporte rodoviário, mas também representa enormes riscos, sobretudo de acidentes e de desvios de mercadorias”, confirma Marcos Siqueira, vice-presidente da Comissão de Transportes de Cargas da FenSeg. 

 

Neste ano, o campo vai produzir 317,6 milhões de toneladas de grãos, segundo estimativa recente da Conab. A alta da safra é de 16,5% quando comparada à do ano imediatamente anterior (2021/2022), com 44,9 milhões de toneladas a mais para movimentação.

 

Duas modalidades refletem a declaração de Marcos Siqueira sobre perdas e ganhos no ramo de transportes. Uma é a de Responsabilidade Civil do Transportador Rodoviário de Carga (RCTR/C), que cobre danos causados a mercadorias de terceiros por acidentes; a outra é a de Responsabilidade Civil Facultativa do Transportador Rodoviário por Desaparecimento de Carga (RCF-DC), o seguro contra roubo.

 

O primeiro gerou prêmios diretos de R$ 392 milhões nos cinco primeiros meses de 2023, e as indenizações somaram R$ 256 milhões. A sinistralidade foi de 63,8% no período. Em 2022, dos R$ 5,7 bilhões obtidos nas modalidades de transporte, a de RCTR/C teve receita de R$ 1,6 bilhão e pagou R$ 1 bilhão em indenizações (sinistralidade de 63%).

 

No seguro contra roubo (RCF-DC), a arrecadação acumulada até maio foi de R$ 392 milhões, e as indenizações, de R$ 256 milhões (sinistralidade de 63,8%). Em 2022, foram R$ 983 milhões em arrecadação, e R$ 629,1 milhões de pagamentos de indenizações (sinistralidade de 65%).

 

IDADE AVANÇADA

A frota de caminhões é um dos pontos de preocupação. Relatório da frota circulante produzido pelo Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças) confirma que o ritmo de modernização da frota é ainda granular: cresceu apenas 2,5% em 2022, segundo o estudo, chegando a 2,16 milhões de veículos.

 

Além disso, o Sindipeças constata que a idade média de 22,9% da frota circulante é de cinco anos, em média; 48,4% têm entre 6 e 15 anos; e 28,7%, mais de 16 anos. Os dados sugerem que a modernização da frota precisa avançar. Há um alento: o número de caminhões emplacados nos últimos dois anos foi de 283,4 mil, de acordo com a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).

 

A Polícia Rodoviária Federal registrou 17.517 acidentes envolvendo caminhões em 2021, e outros 17.939 no ano passado. No acumulado dos cinco primeiros meses de 2023, foram 6.774 acidentes com caminhões, segundo a PRF. Coordenador de Prevenção e Atendimento de Acidentes da PRF, Paulo Guedes explica que grande parte dos acidentes decorre de falhas humanas.

 

Dos acidentes de 2022, 245 casos decorreram de reação tardia dos motoristas ou sequer houve reação, indicando que o motorista dormiu ao volante. Para Guedes, todos esses casos podem melhorar com treinamento adequados dos profissionais e respeito ao regulamento.

 

A falha humana é o principal fator dos acidentes nas rodovias que envolvem caminhões e perdas significativas. “As seguradoras preocupadas em melhorar a segurança viária devem conhecer mais de perto o treinamento dado pelas empresas de transporte aos profissionais em sua política de subscrição”, sugere Guedes.

 

A segurança no tráfego de mercadorias é também uma preocupação constante de produtores e tradings agrícolas, dada a frequência de acidentes e severidade dos danos, reconhece a especialista Elisangela Pereira Lopes, a assessora técnica da Comissão Nacional de Infraestrutura e Logística da Confederação Nacional da Agricultura (CNA).

 

ESTRESSE DOS MOTORES

Os dados das seguradoras confirmam que os sinistros são mais frequentes entre caminhões de autônomos, que, em geral, são mais velhos e sofrem estresse dos motores durante o ápice de safras, tornando-os mais propensos a falhas e acidentes.

 

O modal rodoviário precisa ser olhado com extrema atenção, segundo Elizangela, já que responde por pelo menos 60% da movimentação de cargas do País. “Renovação da frota, manutenção regular dos veículos, vias com mais qualidade para circulação e melhores condições de trabalho devem ser preocupação de todos”.

 

Uma das rodovias que mais registram acidentes é a BR-116, que atravessa dez estados, ligando Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza, informa o Instituto Paulista do Transporte de Cargas (IPTC). 

 

O total de acidentes acumulados de janeiro de 2022 até fevereiro de 2023 ultrapassou 26 mil. Desses, 14,6% ocorreram na BR-116 e 14,2%, na BR-101. As demais rodovias registraram, em média, uma taxa de 5% ou menos do total de acidentes.