Nova era do risco: o setor se adapta aos eventos climáticos extremos
A COP30 é uma oportunidade para posicionar o setor como agente fundamental na busca por soluções relacionadas à sustentabilidade e aos riscos climáticos. Por: Eduard Folch (*)
Os eventos climáticos extremos deixaram de ser exceções sazonais e se tornaram constantes e cada vez mais intensos. Segundo relatório da Organização Meteorológica Mundial, a quantidade de desastres naturais aumentou cinco vezes nos últimos 50 anos. Em 2024, as perdas decorrentes de desastres naturais chegaram a US$ 368 bilhões — quase 80% delas causadas por eventos meteorológicos. Diante desse cenário, o setor segurador reforça sua atuação na identificação de riscos, avaliação e agilidade no atendimento.
O mercado tem se aperfeiçoado diante de um cenário climático cada vez mais imprevisível. Se antes o setor analisava eventos passados para prever riscos futuros, agora “olhar pelo retrovisor” já não faz sentido. Hoje, as empresas aceleram a transformação rumo à construção de soluções mais dinâmicas e resilientes e, consequentemente, abandonam modelos de precificação generalistas.
A transformação é profunda e envolve o uso de tecnologia e IA. As seguradoras combinam análises de dados históricos com modelos preditivos avançados, enriquecidos por informações como imagens de satélite e dados meteorológicos, para entenderem melhor os padrões climáticos e agirem com mais precisão. Também mapeiam regiões mais vulneráveis, o que ajuda a distribuir melhor os riscos e a se protegerem de perdas expressivas. As estratégias de precificação e aceitação são ajustadas com frequência, e soluções sob medida são criadas para diferentes perfis de risco e regiões.
Além de indenizar perdas, o mercado segurador contribui para a resiliência do futuro. A necessidade de proteção é um fenômeno em expansão. A edição 2025 do Relatório Global de Seguros da Allianz Research indica que, nos próximos dez anos, o setor deve crescer a uma taxa anual de 5%. Para o Brasil, a alta prevista é de 9%. Por isso, a adaptação é essencial, seja com seguros bem estruturados ou com medidas preventivas.
Por outro lado, a conscientização sobre as mudanças climáticas e a importância do seguro transforma percepção em ações concretas. À medida que eventos extremos passam a ser reconhecidos como consequências de um planeta em transformação, cresce também o compromisso com atitudes mais responsáveis.
Neste cenário, a COP30 é uma grande oportunidade para posicionar o setor como agente fundamental na busca por soluções relacionadas à sustentabilidade e aos riscos climáticos. Ao trazer o tema para debate, o evento impacta a sociedade para a importância da proteção e o governo para integrar o seguro em políticas públicas e fomenta práticas de gestão de risco no setor privado.
Mais do que um ajuste técnico, observamos uma mobilização contínua das seguradoras para ampliar suas capacidades de resposta, com inovação em produtos, precificação e gestão de riscos. E a adaptação é uma questão de sobrevivência econômica e uma oportunidade estratégica para liderar a transição rumo a um modelo de negócios mais sustentável e preparado para o que vem pela frente.
(*) Eduard Folch é presidente da Allianz Seguros.