NOVAS OBRAS AMPLIAM CARTEIRA DE NEGÓCIOS DO MERCADO SEGURADOR
Avanço de roubos em obras é ponto de atenção na rota de crescimento dos seguros de Riscos de Engenharia, que recuaram de R$ 878 milhões (2011) para R$ 266 milhões (2018). Por: Vagner Ricardo
Uma ruga de preocupação acompanha o crescimento mais acelerado do seguro de Riscos de Engenharia a partir deste ano: a constatação do avanço contínuo dos eventos de roubo e furto. No ano passado, a sinistralidade da carteira chegou a 76% com a contribuição dos roubos de materiais de construção nas dependências das obras, uma tendência que vem se consolidando nos últimos anos e obriga as seguradoras a tornarem mais severa a política de subscrição de riscos.
Insignificantes antes da pandemia, esses eventos ganharam escala ano a ano e mantiveram-se elevados e insustentáveis para a maioria das seguradoras, ao lado dos extremos climáticos e de erros de execução de obras. Além da sinistralidade causada por esses componentes, ainda há despesas comerciais e administrativas que elevam os custos das apólices.
“Os valores das indenizações por roubos e furtos, que antes oscilavam entre R$ 3 mil e R$ 10 mil, agora podem variar de R$ 100 mil a R$ 300 mil por ocorrência, sobretudo com o uso de caminhões nos assaltos”, afirma Fábio Silva, presidente da Comissão de Riscos de Engenharia da FenSeg.
INDÚSTRIA DA RECEPTAÇÃO
Nas grandes cidades, o roubo em obras revela a existência de quadrilhas especializadas, que buscam cabos e outros equipamentos valiosos, como notebooks e computadores, para alimentar a indústria da receptação. Em resposta, as seguradoras promovem aperfeiçoamentos na política de subscrição de riscos, exigindo a instalação de câmeras e alarmes nos canteiros de obra para uma resposta mais assertiva, evitando também que vigilantes sejam alvos de violência durante os assaltos.
“Os roubos e furtos ganharam uma dimensão muito grande no pós-pandemia, com crescente reflexo nas apólices de Riscos de Engenharia, principalmente nas metrópoles, onde as invasões de obras são mais frequentes. Esse já é um fator de preocupação, e as seguradoras buscam soluções para conter a expansão desse tipo de crime”, destaca Fábio Silva.
Como a adoção de câmeras nos canteiros é uma medida recente, ainda não é possível avaliar os impactos nas cidades ou em locais ermos, como os de obras de infraestrutura. Além da vigilância eletrônica, as seguradoras adotam sublimites na carteira para casos de roubo e furto, de modo a evitar excesso de exposição aos riscos e conter prejuízos. No jargão do mercado segurador, sublimite é um valor inferior ao limite máximo de indenização da apólice, que obriga o segurado a adotar medidas de gerenciamento para mitigar riscos.
VIÉS DE ALTA
Apesar desse cenário, o Seguro de Riscos de Engenharia volta a despontar entre os negócios mais promissores do mercado. A perspectiva é que a carteira volte a expandir a partir deste ano para algo entre 15% e 20%, recobrando a boa performance registrada entre 2008 e 2011, quando a arrecadação duplicou em virtude de um conjunto de obras, como as da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos, além daquelas listadas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 1). Depois de 2011, o mercado de Riscos de Engenharia desandou.
O cenário de recuperação de agora deve-se também à perspectiva de obras do novo PAC e de investimentos em novas concessões ou privatizações nos próximos anos em infraestrutura: rodovias, aeroportos, projetos de energia renovável pelo setor privado, ferrovias – só o trem-bala acrescentará um volume de prêmios significativo à carteira de Riscos de Engenharia – e saneamento, que ainda não é significativo, já que os investimentos estão aquém do necessário para a universalização dos serviços até 2033.
A reação deve trazer de volta players do mercado que se afastaram durante o período mais nebuloso da construção pesada e ampliar a concorrência por mão de obra especializada, já que as seguradoras deverão remontar as equipes e núcleos especializados neste tipo de risco. No pior momento da crise da construção, essas unidades foram desmontadas e incorporadas à área de property das seguradoras.
CENÁRIO POSITIVO
No ano passado, a arrecadação chegou a quase R$ 1 bilhão, alta média de 15%, que deve avançar a partir deste ano e dos subsequentes. O cenário positivo apaga aos poucos da memória o período de contração prolongada, que permaneceu até 2018. Esse cenário tem relação direta com o ciclo recessivo de 2014/2015, baixo crescimento nos anos seguintes e avanço da Operação Lava-Jato, que tirou grandes empreiteiras do jogo, levando o País a conviver com um sem-número de obras inacabadas.
Por ser um seguro que não é renovado depois da conclusão da obra, o Riscos de Engenharia depende da execução de novos projetos para formar volumes de prêmios e, portanto, de uma conjuntura econômica positiva no País e no exterior para que os investimentos se realizem.
Desde 2019, o mercado de Riscos de Engenharia começou a ganhar tração, algo que tem relação direta com a iniciativa do Governo Federal de finalizar obras inacabadas de infraestrutura, por meio de PPPs ou novas concessões. Essa retomada lenta encerrou um ciclo de forte perda registrada entre 2012 e 2018, período em que a arrecadação da carteira, em linha com o viés de retração da construção pesada, recuou de R$ 878 milhões (receita de 2011) para R$ 266 milhões.
O resultado é fruto não só das investigações da Lava-Jato, que afetaram obras tocadas por grandes construtoras, mas também da descontinuidade causada pela conjuntura econômica, provocando a retração dos seguros que cobrem esses riscos.
É uma página virada na recente história da modalidade, que está pronta para a disputa acirrada entre os cerca de 20 grupos que vão buscar produção relevante nesse quadro mais promissor, até que se prove o contrário.