O CÉU É O LIMITE DOS DRONES E DOS SEGUROS PARA PROTEGÊ-LOS

O CÉU É O LIMITE DOS DRONES E DOS SEGUROS PARA PROTEGÊ-LOS

A frota no País já ultrapassa as 115 mil unidades registradas na Anac, mas o mercado segurador concentra esforços em veículos usados em atividades comerciais e profissionais.

Por: Vagner Ricardo

Um voo de cruzeiro é uma metáfora adequada para retratar o desempenho dos seguros ofertados para os proprietários de drones. Acompanhando a evolução da frota dos veículos não tripulados, o pequeno número de seguradoras – quatro destacam-se – e de resseguradoras presentes nesse nicho de mercado experimenta mês a mês um novo salto da arrecadação e taxa de sinistralidade satisfatória. Melhor: outros usos ainda embrionários dos drones, como serviços de entrega ou atividades submarinas, devem crescer no País e entrar no radar das seguradoras. 

 

Não há números do volume de prêmios gerado pelos drones, já que a receita está incorporada à dos demais veículos aéreos da carteira de aeronáuticos. São três tipos de coberturas disponíveis no mercado nacional, a única obrigatória é o Reta (Responsabilidade do Explorador ou Transportador Aéreo), o mesmo exigido dos demais veículos aéreos pelo Código Brasileiro de Aeronáutica.

 

A contratação é obrigatória para os proprietários de drones que fazem atividades comerciais, além da cobertura adicional para os que queiram ampliar os capitais segurados de danos a terceiros acima do Reta, e os de Cascos Aeronáuticos, para danos ao veículo e equipamentos transportados durante o voo, explica Carlos Polizio, coordenador da Subcomissão de Seguros Aeronáuticos da FenSeg. O mercado estima que a arrecadação anual gire em torno de R$ 4 milhões. O Reta para drones vale apenas para danos ocorridos no solo, fixando-se o limite de perda por aeronave em R$ 150 mil.  

 

FROTA CRESCENTE 

A expansão acelerada da frota desses veículos não tripulados tem a ver com sua utilização por diversos segmentos econômicos, como agricultura, construção civil, meio ambiente, mineração, urbanismo, indústria, arquitetura e segurança pública.

 

No agronegócio, o uso comercial dos drones é crescente na pulverização de lavouras de pequeno e médio portes ou no mapeamento de áreas agrícolas. O sobrevoo ajuda a identificar falhas no plantio, infestação de ervas daninhas, ataques de pragas, doenças ou irregularidades de irrigação. 

 

Só a frota para uso agrícola soma hoje 2,5 mil veículos registrados. A previsão da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) é de que sejam dez mil aeronaves até 2028. A expansão acelerada tem relação direta com a simplificação das normas para uso aeroagrícola dos drones, que são isentos da contratação do seguro Reta quando usados apenas para pulverização. 

 

A frota cadastrada já ultrapassa os 115 mil drones, englobando modelos para lazer, uso comercial ou profissional – nem todos precisam estar segurados. “O seguro só está vinculado a atividades comerciais ou profissionais e não ao uso recreativo. O universo segurado é de cerca de 30% da frota, algo em torno de 28 mil unidades”, informa Polizio.

 

RITMO GLOBAL 

O Brasil segue o ritmo global de adesões aos drones. Dados da empresa de consultoria Grand View Research estimam que as vendas de drones comerciais no mundo somaram US$ 19,89 bilhões em 2022 e devem mais que dobrar até 2030, alcançando US$ 57,16 bilhões. 

 

O relatório assinala que o crescimento do mercado tem relação direta com o aumento da aplicação empresarial, acompanhada do esforço dos fabricantes em oferecer soluções para diversos mercados, a partir da incorporação de novas tecnologias. 

 

Apenas para ilustrar a que ponto chega a criatividade, a IBM patenteou nos Estados Unidos um drone que entrega café e prevê quem precisa de cafeína, a partir de sensores que avaliam a pressão sanguínea, dilatação de pupilas e expressões faciais. Uma ação oportuna no maior mercado consumidor de café no planeta.

 

“O drone tornou-se altamente tecnológico e com inúmeras utilidades,  conseguindo chegar a diversos lugares e realizar tarefas variadas: captura imagens, entrega produtos, atua em ajuda humanitária, contribui para o monitoramento de fenômenos e desastres naturais e pode ser usado na agricultura para muitas finalidades. São também eficientes como instrumento de espionagem e transporte de armamento”, assinala Polízio.

 

Para ele, o valor dos drones (que pode chegar a R$ 200 mil) e sua utilização são determinantes para a busca dos seguros de cascos aeronáuticos e o de capitais suplementares de danos a terceiros. 

 

Sites dedicados a usuários de drones listam os riscos mais frequentes de queda: colisões contra paredes ou árvores porque o piloto, sobretudo o iniciante, pode confundir a direção ou não identificar o rabo do nariz em voos mais altos. O mau funcionamento dos motores e hélices é outra causa de acidentes, além de falta de sinal de GPS, erro de bússola compass e no uso correto do return to home, interrupção da transmissão de vídeo, imprecisão do home point, falha na bateria ou insuficiência de carga para retornar. 

 

Todos os protocolos e normas de segurança devem ser obedecidos pelos pilotos, sob o risco de ter o pagamento do seguro negado em caso de acidente. Além da Anac, que mantém o cadastro de operadores e equipamentos, três órgãos participam da regulamentação do uso de drones: Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), responsável pela homologação do sinal de radiofrequência; Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), que autoriza o uso do espaço aéreo; e Ministério da Defesa, responsável pela regulamentação dos trabalhos de aerofotogrametria, em alguns casos.