O Emprego e a empregabilidade

O Emprego e a empregabilidade

Uma análise sobre os impactos da tecnologia no futuro do emprego no Brasil e no mundo mostra que o caminho para os jovens é o empreendedorismo.

Por: Ricardo Franco Teixeira (*)

A evolução social, com destaque especial para o gradativo reconhecimento dos direitos humanos e da igualdade entre pessoas, independentemente de origem, raça, cor, escolaridade ou qualquer outro fator, levou à criação do trabalho remunerado. Com o tempo, esse tipo de atividade passou a ser procurada nas cidades e no campo por aqueles que precisavam gerar renda para a subsistência ou para dar qualidade de vida às famílias, e decidiram submeter-se a regras ditadas pelo detentor do poder financeiro, quer fossem empreendedores ou apenas empregadores, como no caso dos empregos domésticos.

 

Durante séculos, as sociedades evoluíram em parte graças àqueles que optaram pela remuneração a partir de regras definidas pelos detentores de capital e não pela justa recompensa por sua capacidade e seu desempenho. Em todas as regiões foi necessário fixar um piso mínimo de remuneração (por hora, dia ou mês de trabalho), para evitar um aviltamento que poderia ser comparado à escravidão.

 

Mas por que isso aconteceu e ainda acontece? A resposta é complexa. Começa no ser humano e na sua capacidade de adaptação às privações, passa pela questão psicológica da motivação, esbarra em questões ligadas às habilidades e às competências e, por fim, tem ligação direta com questões relacionadas a aspectos positivos da ambição. E é em parte por esses fatores que sociedades menos desenvolvidas tendem a permanecer nas mesmas posições em termos de desenvolvimento humano, mesmo quando evoluem.

 

A baixa escolaridade associada a aspectos culturais que não valorizam o sucesso profissional, mas, sim, ao status por tradição, é a que mais demora a criar riqueza de forma democrática — e até coletiva.

 

A tendência à acomodação por parte de um grupo social é determinante em sua estagnação financeira e cultural. A curiosidade, a abertura a nossos conceitos e a cultura do empreendedorismo, por outro lado, funcionam como dínamos, gerando a energia que permite uma evolução social constante na educação, nas invenções, no trabalho ou na sociedade.

 

Mas o mundo vem mudando em grande velocidade nas últimas décadas. Os avanços tecnológicos estão permitindo interações diferenciadas entre patrões, empregados, prestadores de serviços e colaboradores de maneira geral. O trabalho em si está sendo flexibilizado, tanto do ponto de vista do local onde é prestado, quanto dos horários e da tecnologia envolvida.

 

A inteligência artificial promete executar com grau de excelência tarefas antes desenvolvidas apenas pelo ser humano, como, por exemplo, a elaboração de textos e a automatização que não precisa ser nem padrão, nem constante: pode obedecer a comandos únicos ou ajustar-se à demanda durante um dia ou uma semana ou um mês… Flexibilidade com rapidez e precisão e sem custos adicionais, reclamações, absenteísmo ou falhas humanas.

 

VISÃO ESTRATÉGICA

Com esse cenário, qual será o futuro do emprego? E do trabalho? Aqui vale deixar claro que o emprego em si tende a diminuir em algumas atividades em que a presença da mão de obra não é tão importante. Por exemplo: os atendimentos a grandes públicos, com demandas geralmente previsíveis, como no setor bancário. A redução do contingente de empregados no setor é perceptível. E poderá ser ainda maior.

 

Mas a notícia boa é que à medida em que a produtividade aumenta com os serviços automatizados, o lucro também aumenta, fazendo com que haja mais recursos financeiros para investimentos em tecnologia, que será desenvolvida por humanos com visão estratégica. Com mais investimentos, crescem as oportunidades na área de manutenção. Mas, convém destacar, esse é um setor que tende à redução na oferta de postos de trabalho e na interferência direta de trabalhadores nos processos, devido aos avanços tecnológicos.

 

E no curto prazo, o que podemos esperar? Segundo o IBGE divulgou recentemente, temos experimentado uma redução na taxa de desemprego em nível nacional, com recorde no número de pessoas ocupadas e manutenção do nível de pessoas na informalidade. A notícia é boa. Essa alta se dá como consequência do crescimento da economia, que tem ultrapassado as projeções do início do ano e cuja tendência é animadora.

 

Ou seja, a curto e médio prazos, sejamos otimistas com relação ao mercado de trabalho. Mas, qualquer que seja o crescimento, o número de desempregados e de desocupados será reduzido, mas continuará sendo considerado elevado, principalmente pelos diretamente afetados e seus grupos familiares e sociais.

 

Nesse momento, em todas as economias do mundo, o índice Gini, desenvolvido para medir o grau de concentração da renda em determinado grupo, nos indica que temos grandes desafios. No Brasil, embora avanços tenham sido percebidos ao longo das últimas cinco ou seis décadas, as desigualdades são elevadas e, no futuro, pelas projeções feitas hoje, continuarão a ser.

 

Para avançarmos na redução das desigualdades e permitirmos o avanço na inclusão de todos na economia, será preciso traçarmos, imediatamente, um projeto educacional que permita a inclusão dos menos favorecidos no ambiente de trabalho e que prepare a nossa juventude para que dependa menos de empregos e possa pensar em empreender numa economia em que o emprego formal continuará existindo, mas em número proporcionalmente menor, e com remuneração que não permitirá com facilidade nem a ascensão profissional nem os avanços salariais relevantes.

 

Nossa juventude deve ser preparada para pensar de forma empreendedora.

 


(*) Coordenador do MBA em Gestão Financeira e professor dos cursos de Educação Continuada da FGV