O seguro como arquitetura da confiança climática

O seguro como arquitetura da confiança climática

O Brasil tem potencial para liderar a transição do clima: matriz energética limpa, biodiversidade e a experiência do setor em lidar com riscos complexos.

Por: Felipe Nascimento (*)

Falar em financiamento climático é, na prática, discutir como vamos construir o futuro que desejamos. Isso envolve não só mobilizar recursos, mas também criar caminhos para ações concretas, sustentáveis e duradouras. Nesse esforço, o mercado brasileiro de seguros tem uma oportunidade de assumir um papel estratégico e central na construção de soluções climáticas de longo prazo.

 

O seguro tem uma característica essencial nesse contexto: ele viabiliza. Antes mesmo de o investimento chegar, o seguro já está lá, ajudando a tirar do papel o que, de outra forma, seria considerado arriscado demais e jamais existiria.

 

Estamos falando, por exemplo, de parques solares, projetos de mobilidade elétrica, reflorestamento em áreas degradadas, modernização de indústrias, implementação de tecnologias agrícolas de baixo carbono ou até mesmo projetos de drenagem urbana para lidar com enchentes nas grandes cidades. Todos eles enfrentam o mesmo obstáculo, que é a incerteza. Com um seguro bem estruturado, essa incerteza diminui e a confiança aumenta.

 

Esse papel não é novo para o nosso setor. O mercado segurador já tem uma longa história no Brasil lidando com riscos complexos, em todas as regiões e setores. Temos experiência com o imprevisível, sabemos como medir e compartilhar riscos de forma sustentável. Isso é essencial para um país que precisa crescer, convivendo com uma realidade climática cada vez mais desafiadora devido às dimensões continentais e às desigualdades persistentes.

 

Temos também uma base de conhecimento muito valiosa. São décadas de dados, estatísticas, padrões e projeções. Quando colocamos essa inteligência a serviço de quem está inovando, sejam eles investidores privados, governos, cooperativas ou startups, ajudamos a tirar ideias do papel. O seguro não precisa entrar no fim da cadeia, como uma formalidade. Ele pode, e deve, entrar no início, como uma estrutura de apoio desde a concepção do projeto.

 

O Brasil tem todas as condições para liderar a nova economia de baixo carbono: biodiversidade, capacidade técnica, matriz energética limpa e uma agenda pública em ascensão. A COP30 será, além de um palco para lideranças de todo o mundo, um verdadeiro teste de articulação para destravar agendas necessárias. E o setor segurador brasileiro está pronto para contribuir com o que tem de mais valioso, que é a confiança que permite seguir em frente mesmo quando os caminhos ainda não estão todos traçados. Nos vemos em Belém.

 

(*) Felipe Nascimento é CEO da MAPFRE Brasil.