Ondas de calor levam Prefeitura do Rio a adotar protocolo de alertas

Ondas de calor levam Prefeitura do Rio a adotar protocolo de alertas

Avisos de altas temperaturas serão incorporados aos estágios operacionais da cidade, que divulgam informações sobre chuvas intensas ou outros incidentes que afetam a vida da população.

Por: Letícia Nunes

A decisão da Prefeitura do Rio de criar um protocolo para as ondas de calor aqueceu um debate no mercado de seguros: como os organizadores de eventos podem se proteger para evitar prejuízos irreparáveis? As seguradoras já oferecem produtos que abrangem diversos tipos de sinistros relacionados a problemas em eventos e, cada vez mais, incluem coberturas que também garantem ressarcimento, caso o clima impacte a realização de um espetáculo.
A atenção ao tema não é exagero. Em estudo divulgado em junho, a Organização
Meteorológica Mundial (OMM) apontou 80% de probabilidade de a temperatura global média anual ficar 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais nos próximos cinco anos. A OMM constatou que 2023 foi o mais quente da História do planeta. No Brasil, a média chegou a 24,92ºC, isto é, 0,69 °C acima da média histórica
de 1991/2020.
O protocolo carioca para classificar ondas de calor está valendo desde 1º de julho. Avisos de altas temperaturas serão incorporados aos estágios operacionais da cidade, que, há anos, divulgam informações sobre situações de chuva intensa ou outros incidentes que afetam o cotidiano da população.
São cinco níveis de calor (NCs) e cada um deles terá normas específicas. Os três primeiros servirão apenas como uma espécie de alerta. Mas, quando houver previsão de calor intenso por pelo menos três dias seguidos, será acionado o NC4, cuja principal medida é orientar os cariocas a buscar as “ilhas de resfriamento” — locais com refrigeração.
O NC5 é o que mais pode influenciar nos negócios. Se houver previsão de calor extremo permanente, será decretada a suspensão de atividades de risco realizadas ao ar livre, como jogos ou shows. Neste estágio, a prefeitura divulgará boletins meteorológicos a cada seis horas.
“Um nível de calor muito alto, com previsão de permanência de pelo menos três dias consecutivos, começa a ter impacto na saúde das pessoas”, pontuou o prefeito Eduardo Paes, no lançamento do protocolo.
As seguradoras já despertaram para a necessidade de atender a casualidades oriundas de problemas climáticos. Na lista de coberturas básicas estão as coberturas de Responsabilidade Civil (RC) e de Riscos Diversos (RD). As de RC cobrem tumultos, despesa judicial e outros, e as de RD, interrupção, transferência ou adiamento do evento, ‘no show’ e condições climáticas adversas.
“O tema clima é uma ameaça e demanda ações do setor: planejamento e debate sobre como esses fenômenos podem ser tratados, em especial nas relações comerciais e de consumo”, diz o presidente da Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (Abrape), Doreni Caramori Jr.

USO DE TECNOLOGIAS
Esse planejamento pode tornar obrigatório o uso de tecnologias que ajudem a mitigar o impacto dos fenômenos climáticos em eventos ao ar livre. Nos Estados Unidos, tanto o Super Bowl quanto o Tomorrowland trabalham com ferramentas de inteligência artificial, que monitoram o público em tempo real e identificam riscos, como tumultos, violência e problemas de saúde.
Lá, já há apólices em que as indenizações dependem da temperatura. Esses seguros, conhecidos como paramétricos, são basicamente uma aposta sobre até que ponto o calor chegará e permitem que as empresas se protejam de riscos que apólices tradicionais dificilmente cobrem. De certa forma, também funcionam como opções para proteger as próprias seguradoras, que podem registrar perdas significativas em decorrência de pagamentos de indenização acima do esperado.
“O calor extremo leva a vários danos que, muitas vezes, só se tornam perceptíveis com o passar do tempo”, observa a vice-presidente da associação representativa da American Property Casualty Insurance Association, Karen Collins.