PIB EM RETRAÇÃO E AUMENTO DE IDOSOS IMPACTAM SETOR DE SEGUROS CHILENO

PIB EM RETRAÇÃO E AUMENTO DE IDOSOS IMPACTAM SETOR DE SEGUROS CHILENO

País deve passar por uma nova reforma da Previdência, investir em novos produtos e elevar investimentos em tecnologia para retomar crescimento.

Por: Carla Severino

As manifestações populares de 2019 no Chile, as maiores desde a redemocratização, levaram aquele País a um clima de mudanças e incertezas que resultaram na eleição do presidente Gabriel Boric. Como outros setores econômicos, o de seguros sofreu as consequências nesse quadro nacional durante a crise sanitária.

 

A menor penetração de seguros, tanto em 2020 quanto em 2021, é explicada basicamente pela queda nas vendas de seguros de vida, cujo prêmio médio foi de US$ 3,8 bilhões entre 2015 e 2019, segundo o vice-presidente executivo da Associação de Seguradoras do Chile (AACH), Jorge Claude. “Em 2020, devido às restrições impostas pela pandemia, o prêmio geral teve queda real de 55%, chegando a US$ 1,6 bilhão”, explicou ele. “Em 2021, embora o volume de prêmios tenha aumentado 3,4%, ainda ficou bem abaixo dos anos anteriores.”

 

INFLAÇÃO EM ALTA

 

A inflação do Chile está na casa de dois dígitos, o que não acontecia há 19 anos. Em outubro, o índice ficou em 12,81%, o maior desde 1991 (18,66%). Segundo o executivo, as empresas estão protegidas, já que os valores dos prêmios são associados à taxa da inflação.

 

Mas, no longo prazo, o setor corre riscos de ter quedas no faturamento. “Os prêmios dos seguros no Chile são reajustados pela inflação. Porém, à medida que a alta dos índices impactar o bolso das famílias, os gastos com seguros passarão a competir com alimentação, saúde e transporte”, ressalta Claude. Em contrapartida, o Banco Central chileno elevou a taxa de juros para 11,25% para tentar conter o aumento dos preços ao consumidor. O índice é o terceiro maior do Cone Sul, atrás apenas de Argentina e do Brasil.

 

“As taxas mais altas podem representar pensão melhor para os aposentados. Após atingir taxas de vendas de quase 1,1%, em outubro de 2019, hoje as taxas estão em torno de 3,4%.” A atual situação econômica deve levar o País a um baixo crescimento do PIB. As previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgadas em novembro, apontam crescimento de 2,1% neste ano. Para 2023, a previsão é de contração de 1,3%.

 

Claude acredita que esses índices afetarão diretamente os seguros. “A expectativa é encerrar este ano com crescimento de 16,9% — 4,2% para seguros gerais e 26,3% para seguros de vida, alavancado pelas anuidades vitalícias. Já para 2023, projeta-se algo bem mais moderado, de 2,1% para geral, e 4,4% para vida”, informa ele. As receitas do mercado chileno são dominados pelos seguros de vida, principalmente os de pensão, que representam cerca de 50% do volume comercializado no país.

 

Nos últimos dez anos, os seguros gerais representaram 33% dos prêmios do setor, e os de vida, 67%. Neste ano, o setor de seguros do Chile teve crescimento nominal de 9%, o segundo maior do Cone Sul. “Considerando a baixa penetração dos seguros em comparação a países mais desenvolvidos, o potencial do setor é de continuar crescendo.”

 

AUMENTO DOS IDOSOS

 

No Chile, o sistema de pensão é controlado pelas Administradoras de Fundos de Pensão (AFPs), entidades privadas que recolhem as contribuições dos trabalhadores em contas individuais e administram esse dinheiro. Aí está um ponto de atenção do setor.

 

Estudo recente do Instituto Nacional de Estatística (INE) apontou que o Chile caminha para o envelhecimento avançado da população, devido ao declínio persistente da natalidade, à redução da mortalidade entre os jovens e ao aumento da expectativa de vida. Em 1992, as pessoas com mais de 60 anos representavam 9,5% dos chilenos. Até setembro deste ano, já significavam 18,1%. A expectativa é que, em 2050, os idosos sejam 32,1% da população chilena.

 

“Esse processo levará ao desenvolvimento de novos produtos e à revisão da idade mínima. A oferta de produtos pelos canais digitais também deve ser revista, dada a menor digitalização desse segmento da população. Da mesma forma, políticas com linguagem clara e simples ajudarão a aproximar esses produtos dos idosos”, salienta Claude. Paralelamente a isso, o presidente Gabriel Boric propôs uma reforma da Previdência para melhorar os rendimentos da população idosa.

 

Vale ressaltar que esse foi um dos principais temas abordados pelos chilenos nas manifestações de 2019. A proposta governamental pretende manter a alíquota atual de 10,5% de contribuição dos trabalhadores para as contas individuais, com aumentos graduais de seis pontos percentuais na alíquota em seis anos. O valor seria cobrado também de empregadores e destinado a um fundo comum de seguridade social, que terá ainda aportes do Estado. As empresas contribuíram com propostas para a reforma e lançaram um novo produto em setembro deste ano, chamado de Renda Vitalícia Escalonada, para aumentar os rendimentos dos aposentados.

 

MUDANÇAS REGULATÓRIAS

 

Os desafios futuros do setor de seguros no Chile estão intimamente vinculados a mudanças regulatórias importantes, conforme prevê Jorge Claude. Entre as alterações, destacam-se a implementação do IFRS 17 — normas contábeis internacionais que orientam uma metodologia obrigatória de mensuração e divulgação de contratos — e a criação de um regime similar ao usado pela União Europeia.

 

“Por um lado, espera-se a pronta aplicação de um modelo de capital baseado no risco, inspirado em parte pela Solvência II, que, embora libere limites de investimento e imponha requisitos de capital, deverá ter impacto na solidez patrimonial das empresas. Por outro lado, até 2025, a Superintendência de Valores e Seguros, que regula o setor, planeja implementar o IFRS 17, que mudará significativamente a contabilização das seguradoras. A nova Lei das Fintechs, aprovada em outubro, pretende normatizar as empresas que prestam serviços financeiros por meio da tecnologia no País.