REAL DIGITAL VAI REVOLUCIONAR A CRIAÇÃO DE NOVOS MODELOS DE NEGÓCIOS

REAL DIGITAL VAI REVOLUCIONAR A CRIAÇÃO DE NOVOS MODELOS DE NEGÓCIOS

Com lançamento previsto para o ano que vem, a moeda terá lastro e garantia do Banco Central e do Governo e vai impactar o nível de eficiência dos seguros.

Por: Bianca Rocha

O Brasil está prestes a ganhar sua primeira moeda digital, cujo lançamento oficial está previsto para acontecer no segundo semestre de 2023. O Real Digital é amparado no conceito CBDC (Central Banks Digital Currencies) e nada tem a ver com as criptomoedas que circulam hoje no mercado, a exemplo da Bitcoin. Sua peculiaridade está principalmente no lastro e na garantia do Banco Central (BC) e do Governo brasileiro, como ocorre com o dinheiro físico — o que fará toda a diferença na criação de novos modelos de negócios, inclusive no setor de seguros. A revolução promete ser maior do que a do Pix, indiscutivelmente um sucesso de adesão no País.

 

O Real Digital está em fase de desenvolvimento desde agosto de 2020, quando o BC organizou um grupo de trabalho para elaborar  estudos sobre a emissão de uma moeda digital pela instituição. A autoridade monetária brasileira criou também o programa Lift (Laboratório de Inovações Financeiras e Tecnológicas) Challenge, espécie de desafio que reúne empresas para testar possíveis formas de uso da moeda digital: Febraban, fintechs e companhias de serviços financeiros. Dos 43 projetos de aplicação apresentados, nove foram escolhidos para acompanhamento pelo BC.

 

Os projetos incluem uso do Real Digital para entregas contra pagamentos, pagamentos contra pagamentos (relacionados ao câmbio entre moedas), em modelos de negócios que incluem internet das coisas (IoT), além de soluções de pagamentos quando pagador e recebedor ficam sem acesso à internet (dual offline).

 

Ainda não há, no entanto, definições da autoridade monetária quanto a essas aplicações, mas a intenção é que a moeda virtual tenha uma função para além das transferências de dinheiro de forma instantânea, já exercida hoje plenamente pelo Pix e por recursos bancários, como TED.

 

Uma informação já é certa: o usuário não será obrigado a ter uma conta bancária para utilizar o Real Digital, que será “guardado” numa carteira virtual. O gerenciamento da transação será feito por algum sistema do governo — provavelmente do próprio BC — diretamente com o cidadão. Essa característica abre espaço para o uso da moeda digital como ferramenta de contratos inteligentes, eliminando a necessidade de intermediários, como bancos ou entidades reguladoras, no processo de uma negociação. Entregas e pagamentos seriam feitos de forma automática por códigos de computador, que executariam as regras definidas pelas partes no acordo.

 

Os smart contracts rodam numa infraestrutura de blockchain, e todas as cláusulas contidas neles são gravadas nessa rede. Uma vez que as regras, obrigações e penalidades sejam inseridas, os contratos serão executados de forma automática conforme o que foi combinado.

 

FACILIDADES

 

Para o sócio da PwC Brasil, Luis Ruivo, é dessa forma que, a princípio, o setor de seguros poderia se beneficiar da nova estrutura. “A nova modelagem pode facilitar, por exemplo, os seguros pay per use, que permitem a oferta de produtos personalizados por meio dos contratos inteligentes em redes de blockchain”, explica Ruivo.

 

Com o Real Digital, acrescenta ele, haveria a possibilidade de pagamento automático tanto do prêmio quanto do sinistro, de acordo com as regras do contrato, das coberturas e dos riscos envolvidos. Para ele, a grande chave da moeda digital estará no fato de poder ser programável.

 

“O céu é o limite para isso. Eventos cobertos por seguradoras poderão ser programados em contratos inteligentes e pagos com Real Digital. O nível de eficiência será enorme”, prevê. O fato de a moeda não exigir conta bancária também fará aumentar o número de potenciais usuários de seguros no Brasil. “Essas pessoas poderão ter uma carteira digital e efetuar pagamentos eletrônicos, o que pode aumentar também a capacidade de consumir seguro”.

 

A sócia e líder da área de Blockchain e Criptomoeda da EY, Thamilla Talarico, diz que o uso do Real Digital em conjunto com a IoT pode gerar diversos benefícios tanto para a seguradora quanto para o segurado: “Imagine um sensor capaz de identificar o volume de inundação em uma plantação. Se a água ultrapassar o limite previsto em contrato, o sensor é capaz de liberar o pagamento do seguro através da moeda digital, de forma totalmente programável e segura”, exemplifica ela, lembrando que a infraestrutura de blockchain é algo “incrível” e deve ser explorado com afinco pelo mercado de seguros.

 

“É possível gerar melhores práticas de negócios, dados qualificados, mais transparência e eficiência. Sem contar a possibilidade de reduzir fraudes em sinistros e a oportunidade de criação de novos produtos de seguros. O mercado segurador precisa estudar o assunto com urgência, de modo a estar preparado para os novos modelos de negócios que vão surgir”.

 

PIX TRAZ OPORTUNIDADES PARA O SETOR DE SEGUROS

 

Sucesso no Brasil, o Pix surgiu como uma alternativa rápida e gratuita para efetuar pagamentos instantâneos. O diretor de Serviços Financeiros da EY Brasil, Ivan Habe, afirma que, de fato, o método traz oportunidades para diversos setores da economia, incluindo o de seguros. “Acredito que o Pix pode significar mais um meio de pagamento a custo zero, principalmente para os potenciais consumidores de microsseguros”, exemplifica.

 

Segundo Habe, as oportunidades de negócios poderão crescer ainda mais quando o Banco Central colocar na praça o projeto do Pix Garantido, que vai permitir aos usuários parcelar suas compras, como numa transação com cartão de crédito. A solução faz parte da agenda evolutiva do BC para o Pix. “O prêmio normalmente é pago de forma parcelada, que é um costume consolidado entre os consumidores brasileiros. Então, a seguradora terá a chance de remodelar a experiência de seu cliente, por meio de um modelo prático, eficiente e econômico de pagamento”, diz Habe.