Resseguros: prêmios em alta objetivam repor perdas dos últimos anos

Resseguros: prêmios em alta objetivam repor perdas dos últimos anos

Relatório da Swiss Re aponta para a continuidade dos preços altos dos resseguros, mas afirma que a expansão dos seguros na América Latina não será afetada

Por : Vagner Ricardo

Os preços médios dos planos de resseguros devem permanecer estáveis, mas em patamares elevados ou ligeiramente mais altos no próximo ano. O prolongamento do chamado “ciclo hard’ do mercado mundial tem relação direta com a permanência de um cenário complexo e desafiante para seguros e resseguros.

 

No radar dos players globais, a continuidade da inflação alta, o avanço da judicialização em mercados proeminentes, como nos EUA, e os desastres naturais catastróficos – como furações no Atlântico Norte, inundações na Europa, terremotos, ciclones, incêndios florestais, todos com perdas econômicas extraordinárias.

 

Em relatório, o Swiss Re Institute diz que a continuidade dos preços altos dos resseguros não afetará a trajetória de expansão dos seguros na América Latina. O estudo divulgado em outubro informa que os negócios Patrimoniais & Responsabilidades (P&C) devem ganhar tração com o recente afluxo histórico de Investimento direto estrangeiro, contínuo em virtude da reorganização das cadeias produtivas globais. Ao passo que Vida & Saúde (L&H) ainda vão se beneficiar do aumento da sensibilização para os riscos a partir da pandemia.

 

“O endurecimento dos preços deverá prevalecer, à medida que as seguradoras façam ajustes ascendentes de precificação necessários para compensar a inflação elevada e os maiores custos com sinistros”, acrescenta o estudo.

 

RISCOS SECUNDÁRIOS

 

Há também os chamados riscos secundários, como inundações repentinas, entre outros de perdas médias e pequenas para o mercado ressegurador, que antes não tinham a frequência e a severidade tão intensa como agora, a ponto de incomodar seguradoras e resseguradoras e afetar seu capital ou lucratividade, assinala o executivo Rodrigo Belloube, chief underwriting officer da Munich Re, lotado na Alemanha.

 

Segundo Belloube, é pouco provável a guinada do mercado de hard para soft no curto prazo, inclusive no Brasil, porque as resseguradoras continuam o movimento de recuperação de perdas financeiras dos últimos exercícios. Ele lembra que grande parte dos players conviveu com uma queda de capital nos últimos dois ou três anos, por problemas de gestão ou elevada exposição a catástrofes em determinadas praças de negócios, como as resseguradoras locais do Brasil.

 

Esse resultado afetou a capacidade de subscrição de algumas modalidades de riscos, reduzindo a oferta de planos de resseguros em meio à crescente demanda dos segurados, com impactos diretos nos valores dos prêmios.

 

“As condições que levaram ao aumento dos prêmios persistem e há variáveis que geram incerteza para fins de precificação, como o efeito potencializador do El Niño nas mudanças climáticas, que acabam sendo incorporadas aos preços e podem provocar uma elevação importante nas renovações do próximo ano”, assinala ele.

 

A mudança climática, em particular, traz uma volatilidade que fica difícil modelar, acrescenta ele, ainda que haja investimentos científico e matemático para a compreensão desses fenômenos climáticos pelas resseguradoras.

 

O vice-presidente da Federação Nacional das Empresas de Resseguros (Fenaber), Frederico Knapp, afirma: “o endurecimento das taxas é necessário para remunerar os capitais alocados pelas resseguros, tendo em vista alguns anos de perdas globais puxadas por sinistros de enorme severidade”.

 

Knapp acrescenta que, no caso brasileiro, além da sinistralidade maior, houve também uma busca do mercado para se aproximar das médias de risco o retorno de outros países nos últimos anos. Adicionalmente, a baixa taxa de penetração dos seguros torna as altas mais sentidas no mercado brasileiro.

 

Da mesma forma, a baixa participação de segurados implica que muitos dos sinistros aqui ocorridos não tenham proteção, levando a uma enorme diferença entre perdas econômicas ocorridas e as parcelas repassadas para seguradoras e resseguradoras.

 

CICLO LONGO

 

Esse já é um dos ciclos mais longos de taxas duras de resseguros, observa o diretor técnico da Associação Brasileira de Corretoras de Resseguros (Abecor), Paul Conolly, para quem a virada de mercado soft para hard ocorreu no biênio 2017/2018 de forma mais acentuada, período em que o mercado se tornou extremamente duro. De lá para cá, avança em ritmo mais moderado.

 

“Esse é um ciclo bem longo de taxas elevadas. Para se ter uma ideia, o outro ciclo, na sequência dos atentados de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, durou três anos, retomando o viés soft market”, recordou ele.

 

A seu ver, as taxas não estão baratas, mas já há um movimento mais acirrado de disputa entre as resseguradoras no País atualmente, algo que tem a ver o retorno de grandes players globais. Isso favorece as empresas de bom histórico de sinistros e políticas de gerenciamento de riscos, avalia ele, que espera de 2024 um ano muito positivo para esse grupo de segurados.

 

“Riscos de atividade ruim continuarão a pagar mais e aqueles com gerenciamento de risco adequado vão ter algum benefício”, afirma.

 

Pelo menos, as resseguradoras tendem a ampliar a oferta de capitais, ampliando a capacidade de retenção de grandes riscos. Mas as seguradoras estão obrigadas a ampliar sua participação nos sinistros para buscar equilíbrio nas operações das grandes resseguradoras.