Roberto Santos passa O BASTÃO na Porto e inicia novo ciclo no grupo

Roberto Santos passa O BASTÃO na Porto e inicia novo ciclo no grupo

Após 21 anos no grupo, o executivo se prepara para assumir um assento no Conselho de Administração da Porto e permanece no Conselho Diretor da CNseg.

Por: Vagner Ricardo

O executivo Roberto Santos despede-se, agora em dezembro, do comando da Porto, dois anos antes do prazo limite previsto nos estatutos do grupo (65 anos). Ao sair, aos 63 anos, ele cumpre um ciclo de sete anos na presidência da Porto e um total de 21 anos de atividade no grupo.

 

Na sequência, ele pretende ocupar, “se Deus quiser, até os 70”, um assento no Conselho de Administração do grupo e participar de três comitês (Riscos, Conselho Consultivo da companhia e Saúde), quando fecha o novo ciclo e atinge a idade limite para permanecer na Porto. Também permanecerá à frente do Conselho Diretor da CNseg, na qualidade de seu presidente.

 

Roberto Santos conta que a decisão de deixar o cargo de CEO da Porto foi tomada no ano passado, logo após uma cirurgia inesperada na coluna. Foi o sinal para desacelerar, no entender de Roberto Santos, e acertar sua saída com Bruno Garfinkel, presidente do Conselho de Administração do grupo, e participar da escolha de seu sucessor: Paulo Kakinoff, que será o novo CEO da empresa a partir de janeiro de 2024. Kakinoff faz parte do Conselho de Administração da Porto e teve seu nome confirmado em maio deste ano.

 

Desde 2022, Roberto Santos começou a se preparar para a despedida, encerrando o ciclo de 43 anos de atividade no mercado segurador. Ele estreou na SulAmérica no começo dos anos 1980, década em que a receita média do setor se arrastava em 0,9% do PIB. Agora, perto de sua despedida, a arrecadação equivale a 6,5% de todas as riquezas produzidas no País. “E alcançará os 10% do PIB em 2030”, profetiza ele.

 

A gestão de Roberto Santos exibe números robustos em seu último ano. Até o terceiro trimestre, todas as verticais de negócios (Porto Seguro, Porto Bank e Porto Saúde) apresentam resultados positivos. A companhia registrou R$ 621,1 milhões de lucro recorrente, alta de 127,7% em relação ao mesmo período de 2022. Já no acumulado de janeiro a setembro, o lucro líquido foi de R$ 1,62 bilhão, aumento de 180,3%.

 

“Estamos muito animados nessa reta final e confiantes de que fecharemos o ano com grandes resultados, mais uma vez”, escreveu ele no LinkedIn. Ativo nas redes sociais, Roberto Santos tem quase 19 mil seguidores, com os quais mantém diálogo permanente, prestando contas das principais ações do grupo.

 

Poucos seguidores sabem, contudo, de seu hábito de trocar o terno por um macacão de serviço para, eventualmente subir, em um caminhão-guincho, assumir as funções de auxiliar e acompanhar a rotina de colaboradores dos serviços de assistência da seguradora. O objetivo é identificar, in loco, pontos de atenção e possíveis melhorias nessas operações.

 

Sem que soubessem, diversos segurados dos serviços de assistência 24 horas da Porto foram atendidos pelo dirigente máximo da seguradora nos últimos anos. Em momentos cômicos ou icônicos, Roberto Santos participou ativamente da limpeza do esgoto do imóvel de um segurado, empurrou um carro incendiado envolto numa nuvem de cinzas e agilizou o processo de translado de veículos segurados para pátio legal.

 

São páginas que contam quase quatro décadas de vida dedicada ao mercado e revelam, em parte, o esforço individual de Santos para tornar o setor “sexy” para seus clientes. Olhando para o passado, desde a época da economia analógica até a virada digital, há avanços significativos na jornada do consumidor.

 

O chamado seguro multirrisco, por exemplo, que reúne em um só contrato diversas coberturas e hoje pode ser contratado em poucos cliques no computador, anos atrás exigia paciência do consumidor. A começar pela emissão de uma apólice para cada cobertura (incêndio, roubo e furto, danos etc.), além da consulta ao livro verde da editora Roncarati, que reunia as atividades econômicas, os códigos e a taxa do prêmio para cada tipo de segurado.

 

Naquela época, em tempos de produção elevada, as companhias usavam profissionais de seus diversos departamentos para datilografar, em casa, os contratos de seguros. A era da emissão externa rendia uma grana extra alta no fim do mês, e Roberto Santos era um dos que levavam trabalho para casa na época da SulAmérica.

 

O curioso é que, apesar da contratação trabalhosa, os seguros de Incêndio tradicional, Cascos Aeronáuticos e de Transporte eram produtos nobres das seguradoras na década de 1980. Automóvel era quase um “patinho feio” naqueles anos até a Porto surgir com um produto inovador: o serviço de guincho de automóvel e de assistência residencial acoplado ao seguro contra roubo e furto.

 

Depois, o mercado adotou o conceito de justiça tarifária no seguro de Auto, encerrando a era de preço único das coberturas que vigorou até o fim dos anos 1990, independentemente da região. O advento do multirrisco entre 1992 e 1993 significou o fim do seguro de Incêndio tradicional, impondo um ritmo de contratação mais dinâmico e simplificado, lembrou Roberto Santos.

 

Moral da história: sim, Roberto Santos, olhando para o passado, o mercado é cada vez mais “sexy”.