SETOR DE TURISMO PROJETA RÁPIDA REAÇÃO APÓS PERDA DE R$ 341BI COM PANDEMIA
O dado da CNC fica pequeno diante do impacto global que, segundo a ONU, pode chegar a US$ 4 trilhões do PIB mundial Por: Patrícia Faria
Um ano e oito meses depois da decretação pela Organização Mundial de Saúde (OMS) da maior tragédia sanitária do planeta, o setor de turismo – um dos mais afetados pela pandemia – representado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) fez as contas e constatou que o setor amargou perdas da ordem de R$ 341 bilhões no período. Os dados são ainda mais relevantes quando projetados em nível mundial. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), as perdas globais podem custar US$ 4 trilhões ao PIB mundial, com o corte de um bilhão de viagens internacionais entre 2020 e os primeiros meses de 2021.
São feridas que começam a ser cicatrizadas com o processo de vacinação, ainda lenta no Brasil, mas cujo avanço está diretamente ligado à retomada do movimento do setor. A Embratur deu a largada em campanhas para incentivar o turismo interno, apostando nos slogans “viajar com segurança” e “um destino perto de você” como molas propulsoras do setor, que começam a dar sinais de retomada. Sem poder viajar para o exterior, os brasileiros elegeram o Nordeste como destino preferencial.
O presidente da Embratur, Carlos Brito, avalia que os ares estão mudando no País, com a ocupação de mais assentos nas aeronaves e a recontratação de profissionais que foram dispensados no ápice da pandemia. Segundo ele, os aeroportos têm registrado crescimento no fluxo de viajantes, mês a mês, e a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) prevê que, neste segundo semestre, a ocupação da rede hoteleira chegará a cerca de 80%, em destinos consolidados para o turismo, como serras, praias e fazendas. “Estamos muito confiantes que, após tantas dificuldades para o setor no mundo inteiro, o turismo no Brasil terá uma retomada rápida.
As campanhas de incentivo promovidas pela Embratur na televisão, no rádio e em mobiliários urbanos impactaram mais de 600 milhões de pessoas, resultado considerado muito positivo para colaborar com essa recuperação”, informa Brito. Ele acrescenta que as companhias aéreas já trabalham com um aumento de aproximadamente 80% na oferta de assentos para o mercado doméstico, em comparação a 2019, e vem recontratando os profissionais que foram afastados no início da pandemia.
A malha aérea opera atualmente com algo em torno de 54% do que era praticado em 2019. O Aeroporto de Viracopos, em São Paulo, por exemplo, anunciou alta de 51% no total de cargas movimentadas em toneladas no primeiro semestre de 2021, em relação ao mesmo período do ano passado. O Aeroporto Internacional Gilberto Freyre, no Recife, operou em julho com 85% do fluxo do mesmo mês de 2019.
FLUXO DE TURISTAS
A Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE, divulgada em agosto, reafirma o bom momento do fluxo de turistas no País. Segundo estado no ranking nacional de turismo, atrás apenas da Bahia, Pernambuco registrou aumento de 85,6% nas atividades turísticas entre janeiro e julho deste ano, em comparação ao mesmo período de 2020. Goiás liderou com 92%. Ainda no Nordeste, Bahia ficou com 73,3% e Ceará com 63,6%. Em maio de 2021, o índice de atividades turísticas medido pelo IBGE cresceu 18,2% frente ao mês anterior. Apesar da melhora, o segmento de turismo ainda precisa crescer 53,1% para retornar ao patamar de fevereiro de 2020. Menos viagens, menos seguro.
No setor segurador, o impacto foi grande, com queda global de aproximadamente 60% no volume dos prêmios dos seguros de viagem. Presidente da Comissão de Produtos de Risco da FenaPrevi, Ana Flávia Ribeiro Ferraz faz uma análise da retomada do setor e da economia em geral, constatando a crise no turismo.
“Foi um impacto de dimensão global tanto na economia em geral, como no setor de seguros, em especial. O seguro de viagem foi, sem dúvida, o mais impactado: aviões no chão, sérios problemas de desemprego e queda na renda, além da baixa de 82% no volume de passageiros. Agora, estamos olhando para a frente e sentimos um momento positivo para a recuperação e retomada tanto no setor de seguros, como no turismo, com garantias de vida e novos produtos para o setor”, destaca.
PRÊMIOS DO SEGURO
Entre janeiro e dezembro de 2019, o volume de prêmios do seguro de viagem foi de R$ 591,7 milhões. Em 2020, com a chegada da pandemia ao Brasil, a arrecadação foi de R$ 241,8 milhões, representando uma queda de 59,13%. Mas, com a vacinação ainda caminhando, a retomada das atividades econômicas de todo o ciclo que envolve o turismo e o setor de serviços dando claros sinais de recuperação, é hora de apostar em novos produtos para um setor em mutação.
Uma das novas coberturas incluídas no seguro de viagem é para Covid-19, que antes não estava no escopo do produto, mas agora é um dos diferenciais. Para as viagens mais curtas em território nacional, Ana Flávia aposta numa cobertura de saúde com um preço atraente para o território nacional.
“A pandemia acendeu uma luz de alerta. Além do aumento nos prêmios dos seguros individuais, já sentimos uma demanda maior por coberturas de doenças graves para proteger indivíduos e famílias, assim como para a proteção de executivos que já estão voltando a seus compromissos de negócios que exigem viagens e uma estrutura mais segura nas hospedagens e nos meios de transporte”, explica a executiva, que aponta uma queda de 40% na receita dessa modalidade de seguro entre 2020 e 2021.
Ana Flávia acredita na volta do turismo de negócios com mais segurança e exigências do viajante em eventos corporativos e de uma recuperação do setor de seguros aos níveis de 2019 já no ano que vem.
RECUPERAÇÃO DAS PERDAS
A importância do turismo para a economia do País é destacada pelo presidente do Sebrae Nacional, Carlos Melles. O setor responde por 7,7% do PIB brasileiro e pela geração de 7,5 milhões de empregos, mas pode gerar uma perda no biênio 2020 – 2021 de R$ 160 bilhões com a paralisação das atividades, além de amargar a perda de 474,1 mil postos de trabalho.
As apostas são no sentido de o setor recuperar as perdas causadas pela pandemia somente em 2022. Um estudo realizado pela entidade sobre o impacto da vacinação e a retomada dos pequenos negócios revela que o segmento do turismo será um dos últimos a retomar o faturamento pré-pandemia, por conta de suas características. Mas os planos para as festas de final de ano e as férias já começam a aquecer o mercado. O Sebrae tem acompanhado os pequenos empresários do setor, auxiliado na recuperação e ajudado os negócios a ficarem de pé.
Uma das iniciativas foi no sentido de orientar os pequenos negócios a ter acesso aos recursos do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), criado pelo Governo Federal para ajudar a desenvolver as microempresas e empresas de pequeno porte e ao qual tem acesso cerca de 4,5 milhões de empresários. A 11ª Pesquisa de Impacto da Pandemia nos Pequenos Negócios, realizada pelo Sebrae em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV), detectou queda de faturamento em 91% das empresas do segmento do turismo.
Desse total, apenas 9% funcionam da mesma forma que antes da pandemia, 4% fecharam as portas de vez; 28% estão com funcionamento interrompido temporariamente e 59% fizeram mudanças para continuar funcionando. “Mesmo com esses números, acreditamos que, após a vacinação da maioria da população, esse quadro vai se reverter. A confiança dos empreendedores do setor de serviços também tem aumentado, e eles pretendem voltar a contratar nos próximos seis meses, de acordo com a Sondagem dos Pequenos Negócios, que realizamos em parceria com a FGV, em julho”, disse Carlos Melles.
NEGÓCIOS E EVENTOS
Tanto o turismo de negócios quanto o de eventos, que tinham um peso muito grande no faturamento do segmento inteiro, sofreram grandes perdas com a pandemia. Os eventos online diminuíram o fluxo de turistas e muitas cidades que tinham boa parte da arrecadação vinda desse segmento foram impactadas, assim como as empresas especializadas nesse tipo de atividade turística.
Por conta de tudo isso, o presidente do Sebrae acredita que os eventos online vieram para ficar, mas os presenciais serão retomados e muitos deles serão realizados de forma híbrida, unindo presencial e virtual. No último mês de julho, a Expo-Retomada, realizada em Santos/SP, evidenciou que o cumprimento dos protocolos permite realizar eventos com segurança.
“A retomada dos eventos permitirá o reaquecimento não só do turismo, mas também de negócios de outras atividades econômicas que são impactadas por esse segmento. As viagens de negócios estão sendo paulatinamente retomadas, e as empresas que inovarem e estiverem preparadas para esse novo modelo sairão na frente no processo de retomada”, aposta o presidente do Sebrae.
A Associação Brasileira de Agentes de Viagem (Abav) nunca trabalhou tanto para manter e orientar seus 2,2 mil associados a sustentar seus negócios e agora seguir rumo à recuperação. São horas e horas de vídeos, manuais e orientações, assim como e-books para garantir às agências – que migraram para o home office – atravessarem a pandemia. Segundo a presidente da entidade, Magda Nassar, o esforço evitou a quebradeira. O turismo doméstico sempre foi responsável por 60% das viagens, e os roteiros internacionais pelos 40% restantes.
“O primeiro trimestre foi bastante positivo, com uma recuperação significativa. As pessoas despertaram para a importância do agente de viagens depois da pandemia. Estamos adotando todos os protocolos de segurança, e quem pretende viajar pode acessar os serviços por meio de plataformas de tecnologia. A malha aérea do País opera hoje com cerca de 70% da capacidade observada em 2019. Acredito que possamos voltar ao patamar de 200% em dezembro, quando esperamos que a vacinação esteja bem avançada”, espera Magda.