SETOR SEGURADOR DEMONSTRA RESILIÊNCIA PERANTE AS CRISES E A PANDEMIA
A expansão em cenário caracterizado por um ambiente econômico ainda incerto exige que a governança e a gestão de riscos sejam prioridades estratégicas das empresas. Por: André Felipe de Lima
Éfato! Enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) no Brasil cresce 3,9% ao ano, o setor de seguros registra 5% de evolução em termos reais, e isso tem acontecido recorrentemente nos últimos anos. A constatação é, portanto, inequívoca: o setor securitário emite consistente demonstração de resiliência diante das intermitentes crises da economia brasileira e, mais recentemente, perante a pandemia da Covid-19, cujos trágicos desdobramentos incidem para além das cifras – refletem-se em vidas.
O que se pode antever para 2022? A considerar o retrospecto setorial, uma certeza: o tão resiliente setor de seguros prepara-se para responder a novos desafios que surgirão a partir de inúmeras mudanças regulatórias em curso e do advento do open insurance. “Uma nova resiliência se constrói”, prediz o presidente da CNseg, o economista Marcio Coriolano. “O setor de seguros acompanha o ciclo econômico, às vezes com um certo atraso ou antecipando tendências, mas sempre com desempenho histórico superior ao do próprio PIB”, destaca.
No centro dessa transformação que emerge, estão o consumidor e a consequente expansão do setor em um cenário caracterizado por um ambiente econômico ainda incerto com a alta da taxa de juros, mas com governança e gestão de riscos na lista de prioridades estratégicas das empresas. As seguradoras preparam-se para um contexto competitivo, caracterizado por uma revolução silenciosa em que impera a demanda por produtos segmentados e inovadores, que se concentrarão em todos os estratos possíveis: dos microsseguros inclusivos às apólices mais complexas ofertadas ao meio corporativo.
O cliente e a sua experiência em construção para lidar com o universo do seguro estarão na ordem do dia, sobretudo no momento em que começa a ser implantado o open insurance, decisivo para a disseminação da educação securitária, que, por sua vez, ampliará canais e fortalecerá a sinergia setorial. Como destaca Coriolano, o que todos no mercado definem é que a resiliência dos seguros está embasada pelo comportamento adaptativo que o setor demonstra neste recente período de crises econômica e sanitária globais.
“No ano passado, tivemos arrecadação de R$ 500,9 bilhões, com saúde e sem DPVAT, e de R$ 273,7 bi, sem saúde e sem DPVAT, com variação de 1,3% sobre 2019. Num cenário pessimista em 2021, teremos crescimento de 8,0%, mas em um contexto otimista, 11,3%. Para o próximo ano, o crescimento será menor, de 3,8%, em um cenário pessimista, ou de 10,5%, em um contexto otimista”, projeta o presidente da Cnseg.
SAÚDE SUPLEMENTAR
Repetindo o cenário de 2020, nenhum outro segmento do universo securitário foi tão fortemente atingido pelos desdobramentos da pandemia da Covid-19 este ano como o da Saúde Suplementar, que registrou recorde de sinistralidade no primeiro semestre, conforme dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), passando de 67,7% no primeiro semestre de 2020 para 78,64% no mesmo período de 2021. Os gastos dos planos de saúde também atingiram patamares superiores aos de 2020.
Como enfatiza o presidente da FenaSaúde, João Alceu Amoroso Lima, o segmento viveu momentos distintos ao longo deste período correspondente a um ano e nove meses de pandemia. “2021 foi um ano especialmente desafiador, em que as operadoras de saúde tiveram que lidar com a pandemia, a escalada de custos e a retomada significativa de procedimentos médicos, represados em 2020. Apesar dos desafios, o setor avançou: fechamos o ano com cerca de 48,7 milhões de beneficiários de planos de assistência médica e 28,9 milhões de beneficiários em planos odontológicos.”
Em 2022, os desafios permanecerão. Um deles, frisa Amoroso Lima, é conseguir manter a curva ascendente, ou seja, não apenas reter os beneficiários que estão chegando, mas atrair mais pessoas para os planos. “O acesso talvez seja a principal bandeira da FenaSaúde no ano de 2022. Queremos disponibilizar a mais brasileiros saúde e medicina de qualidade e ainda contribuir para a desoneração do SUS”, afirma ele.
O executivo acrescenta que esses resultados só serão possíveis por meio da atualização da Lei 9.656/98, que rege os planos de saúde. Segundo ele, a FenaSaúde defende que o marco legal da Saúde Suplementar possa caminhar junto com as mudanças pelas quais o Brasil passou nos últimos 23 anos, considerando, por exemplo, novos modelos de negócios e de remuneração. “Afinal, em nosso setor, administramos recursos finitos; portanto, é preciso fazer as melhores escolhas em prol dos melhores resultados para os beneficiários”, anseia Lima.
SEGUROS GERAIS
O presidente da FenSeg, Antonio Trindade, salienta que o setor segurador passa por um momento de grandes transformações caracterizado por um redesenho sustentado em três pilares: revisão do marco regulatório, implementações do sandbox e do open insurance e intensificação da jornada de transformação digital, que ganhou tração nos últimos anos e foi acelerada na pandemia.
No segmento de Danos e Responsabilidades, esclarece Trindade, o setor viveu em 2021 uma mudança de paradigma na regulação dos seus clausulados, que abre um novo horizonte para empresas e consumidores. “Em diversos ramos, saímos de um formato regulatório rígido para um modelo flexível e principiológico. A Susep tem acenado com a simplificação do estoque regulatório, o fortalecimento da livre iniciativa e a flexibilização das normas que regem o setor. Esse novo ambiente proporciona mais clareza na contratação dos produtos e reforça a transparência para o consumidor”, diz ele.
O que se observa, contudo, como afirma Trindade, é o aperfeiçoamento do arcabouço regulatório e não a simples eliminação de exigências. As primeiras mudanças foram sentidas com a criação dos seguros intermitentes ou com prazo de vigência reduzido — já disponíveis nas apólices de Seguro Auto. Desde então, houve diversas circulares, resoluções e consultas públicas que contribuíram para a modernização do segmento de Seguros Gerais como, por exemplo, Grupo Patrimonial, Massificados, Grandes Riscos, Responsabilidade Civil, Automóvel e Rural.
“Aqui é importante ressaltar o caráter plural das consultas públicas que precedem as mudanças regulatórias. Elas envolvem não apenas a FenSeg, através de suas comissões técnicas, mas também as principais instituições representativas do setor, em linha direta com a Susep. Esse diálogo contribui para o engrandecimento do setor, estimulando a competitividade e a inovação. Dessa forma, as seguradoras ganham mais agilidade na criação de novos produtos, com a diversificação das coberturas. Ao simplificar as condições contratuais, haverá mais clareza quanto aos riscos cobertos e excluídos oferecidos pelo seguro”, analisa.
Segundo ele, os avanços constituídos pelo sandbox regulatório, o Sistema de Registro de Operações (SR0) e o open insurance marcam o dinamismo da indústria de seguros e a capacidade de se reinventar, mesmo nos momentos mais difíceis. “Em tempos de desafios imensos no Brasil, o segmento de Danos e Responsabilidades é parceiro para concretizar a agenda social e a econômica do País, ao proteger a população de riscos e desonerar o orçamento do Estado”, posiciona- se Trindade.
PREVIDÊNCIA E VIDA
A pandemia impôs desafios sobretudo para o segmento de Previdência Privada e Seguro de Pessoas, como assinala o presidente da FenaPrevi, Jorge Pohlmann Nasser, para quem as seguradoras mostraram-se céleres na tomada de decisões e implementação de ações que garantiram proteção e segurança aos participantes e segurados e, consequentemente, às famílias atingidas pela crise sanitária.
Exemplo disso foi o pagamento de indenizações por mortes ocasionadas pela Covid-19, mesmo que em caráter de exceção, no valor de R$5,7 bilhões, de abril de 2020 a novembro de 2021. Isso sem contar os resgates e as devoluções de reservas por morte dos participantes dos planos de previdência privada. “São recursos cuja imediata disponibilidade em tempos de dificuldades financeiras auxiliaram as pessoas a honrarem seus compromissos e a garantir sustentabilidade para enfrentar os efeitos da crise”, observa Nasser.
“Percebemos indícios de uma mudança no comportamento do brasileiro em relação à sua visão da necessidade do planejamento para o futuro e da proteção familiar. Temos um papel de extrema relevância na difusão das culturas securitária e previdenciária em nossa sociedade”, acrescenta ele. A seu ver, o setor permaneceu comprometido com o seu papel social, extremamente necessário para as pessoas, suas famílias, empresas e, para a nossa economia.
Fomos incansáveis na busca do diálogo e do entendimento com entes que compõem o nosso ecossistema. A história vai trazer inúmeros fatos e acontecimentos desse período que testemunhamos durante a pandemia da Covid- 19. “Apostamos no aumento da contratação dos seguros de pessoas e da adesão aos planos de previdência a partir da sensibilidade do novo consumidor quanto a proteger a si, a família e o patrimônio”, vaticina Nasser.
CAPITALIZAÇÃO
A Capitalização está em aperfeiçoamento contínuo, assim como os demais segmentos de seguros, e mostra-se resiliente e atenta às mudanças impostas por várias frentes socioeconômicas, sejam elas oriundas do mercado financeiro, de aspectos legislativos ou de fatos que impactam a sociedade, como a pandemia da Covid-19. “Estamos observando um avanço nas soluções de negócios com sorteios, com resultado positivo: R$ 20 bilhões entre janeiro e outubro de 2021. Mas, claro, ainda temos um longo caminho a trilhar.
A atividade econômica está retraída, o desemprego é elevado e a renda média das famílias foi afetada. Mas, ao mesmo tempo, o distanciamento resultou na aceleração da digitalização do setor”, destaca o presidente da FenaCap, Marcelo Farinha. O formato digital não só protegeu o setor, como consolidou de vez novas oportunidades de negócios alavancadas pelos títulos na modalidade de Filantropia Premiável, que permitem às pessoas contribuir para causas sociais e ainda concorrer a sorteios. “Esta certamente é uma modalidade que ainda tem muito a crescer”, diz Farinha.
Para ele, o marco regulatório do setor trouxe novas possibilidades de negócio para a Capitalização. “A modalidade de Incentivo aproxima empresas de seus clientes e a modalidade Instrumento de Garantia se vale dos títulos para a execução de muitos contratos”, ressalta.