Turbulência no voo de crescimento global dos carros elétricos
O mercado de carros elétricos enfrenta turbulências inesperadas em seu voo de céu de brigadeiro (*). Na Europa, o encarecimento da energia elétrica, ao lado de uma inflação alta duradoura, parece ser a raiz da perda de entusiasmo. No Brasil, a decisão de locadoras de reduzir a presença de carros elétricos em sua frota é um fenômeno que deve se refletir nas projeções das vendas futuras.
A desaceleração nas vendas na Europa tem a ver com a redução dos subsídios aos carros elétricos por países da União Europeia (UE), o que eleva os valores aos consumidores, seguida da flexibilização nas regras de retirada progressiva dos automóveis a gasolina e diesel, dando-lhes sobrevida.
Subsídio cai e amplia concorrência de carro com motor de combustão
O Reino Unido, por exemplo, adiou a proibição de novas vendas de veículos a gasolina e diesel de 2030 para 2035 e também retirou os incentivos para novas compras de veículos elétricos no ano passado. A Alemanha decretou o fim dos subsídios aos veículos elétricos e promoveu, ao mesmo tempo, uma pausa nas metas de emissões, teve um impacto notável nas vendas da Volkswagen.
O debate na União Europeia para modificar as proibições aos automóveis movidos a combustíveis fósseis também ganha fôlego extraordinário, enquanto o bloco convive com o ingresso de elétricos subsidiados da China pelo seu governo.
No ano passado, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, se queixou de o mercado global estar inundado com carros chineses baratos. No bloco europeu, há tratativas para o governo chinês eliminar o subsídio ou conviver com tarifas de importação salgadas para carros destinados à União Europeia.
Essa conjuntura complexa se reflete no resultado de venda das montadoras europeias. A Volkswagen, que também detém marcas como Audi, Skoda e Porsche, constatou que as vendas globais de carros elétricos caíram 3%, totalizando 136,4 mil unidades no primeiro trimestre do ano. No mesmo período, as vendas de veículos com motor de combustão tradicional aumentaram 4%, aproximando-se dos dois milhões de unidades. Só na Europa, a montadora alemã teve um decréscimo de 25% nas vendas de carros elétricos.
Diante do mau humor dos consumidores, fabricantes como a BMW e a Stellantis admitem rever as estratégias para veículos elétricos, tendo em vista as flutuações do mercado.
Brasil
Depois de ações arrojadas de 2017 a 2022, com grandes compras de veículos por locadoras no território brasileiro, o movimento de aquisição desacelera este ano, indicando a desistência das locadoras de ampliar a presença de carros elétricos no seu portfólio.
As locadores cumprem um papel duplo das vendas de automóvel elétrico. Além da aquisição de grandes lotes dos lançamentos das marcas, sua disponibilidade para locação permite aos potenciais consumidores testarem os novos veículos antes de decidir por uma possível compra futura.
Métricas dizem que a taxa de utilização dos veículos deve ser de 75% para gerar boa remuneração para as locadoras. Ocorre que, dependendo dos modelos de carros elétricos disponíveis, alguns sequer alcançam a taxa de 25%. Resultado, tendo em vista a idade média alcançada por alguns modelos elétricos, as locadores começam a apressar as vendas, mesmo com enorme prejuízo.
(*) Expressão que significa um céu sem nuvens no horizonte. “Brigadeiro” porque se refere a um cargo militar de alta patente, que pilota quando não há o perigo de alguma surpresa desagradável à vista.